ensaio entre luz e sombra (de carácter místico)
sem geometria platónica.
de fachada larga, barroca e rasgada por tantas outras janelas diáfanas, quase ocultas, onde a luz em rosácea de vidrais, se faz enigmática: em modelação e simetria com feixes de cor e os alumínicos* contrastes da sua penumbra como a de uma noite de luar. em seu pleno elogio de luz e sombra, que «também é meu lar». sinto as matrizes dinâmicas e os seus contrastes luminosos nas paredes, no movimento da chama, que «se traduz em intensidade estética, nos seus volumes e dimensões plásticas dos seus sombreados e da sua antinomia».
*(claros-escuros)
fim de ensaio
(por acabar. . . )
transição maneirista (ou loucura de forma canónica)
(e cheio e de cheiro de fonte visual)
na entrada sobre o luar carregado de emotividade.
na percepção visual. vou . . .
e eu me via correr para onde o universo provém: para a luz. para o seu interior. eleito para o seu espaço e sombra enrolada, também. de mistério me vejo consagrado. estaria sempre protegido (a convite, se o desejasse). na entrada uma sensação ilimitada de plasticidade e textura (senti o frio relevo das suas paredes). vou orientado para o altar. e subindo em calcorreia pelo mármore dos degraus. subia e sentia o cosmos desmaterializado. - onde se reúnem as diferentes forças? no cimo, entre anjos (e demónios?). e olhava perdido o mundo, lá atrás, permitindo diferentes efeitos e forças. enquanto “nelas” subo; outro lanço de escadas, e novo andar, novo sentido iniciático, novas paredes e os rostos que acentuam a comprovam novas histórias, e deuses de outras e velhas épocas místicas. mergulho milenar se delas caio perdendo-me entre a luz e a sombra deste templo (cristão?), nesta mística em pontos cardeais que não sei, em triangulações vou. . . oblíquo e directo.
procuro anjo da guarda.
procuro respostas.
soluções.
faculdades.
conferindo a obscuridade, confronto a inexistência.
só me resta a percepção estética. nem anjos nem demónios.
( © ricardo biquinha, in “um quase nada” )