Bordei as madrugadas em alvoradas de luz
num ponto ainda por inventar, sob o olhar
atento de um fugidio raio de luar. Devagar,
paulatinamente, no recorte esguio e fino de ousar
te ver a assomar ameno, da alvura do meu linho.
De igual modo, guarneci num gesto desprendido,
ponto a ponto, fio a fio, um quadro de raiz,
rebuscando um sentido. Não tinha!
Estava definitivamente perdido...
Então, em puríssima entrega, no cantar de um amor
alvo de branco, rebusquei na noite mais negra
a origem do meu manto. Em segredo, pintei
a noite de negro, na vã esperança de dar cor
a um gesto desaparecido ... sem sentido!
Sobrou apenas ...pranto!
Que lá das mas profundas eclusas,
se soltaram em decadência dos teus olhos incolores
as águas turbulentas dos cinco cruzados mares ...
São agora, neste instante, as sedas de um tear -
os meus cinco sentidos, malogrados, desvanecidos -,
nos bastidores de luares!
**
Olho a meu lado, neste lençol enrugado...
Tens a dobra enfeitada p’la palavra coalhada,
no gelo da pútrida alba aurora.
Pronuncio de madrugada
a Alma chora...
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