Poemas -> Surrealistas : 

antracite

 
antracite
carvão mineral, aquele que dificilmente arde...
e já s'incendeia,

sem chama sem cheiro sem fumo
… sem rumo

é

seda cetim tecido rasgado
tecido vendido ao milímetro
dum fardo
acarreado em dorso de um estivador
dobrado directo em braços
em mãos em pontas em dedos
em medas no metro no ritmo e no fado
falado queixoso … choroso, na cor
e no risco…
traçado.

carvão, toutinegra, chinela raiana…
tamanca varina, menina da bica,
cigana na linha da vida e da sina
e no sigma que (en)leio,

... o fio.

antracite
esta cor este grito este vestido que visto
e que rasgo
e que corto na fúria da boca.

pardacenta, consola se escrevo
um poema
uma prosa em folhas de chá e de rosa...

e se voo e sou monga
e se vento e o vento me sopra
e se volto
e sou diáfana de louca

nas asas de ti, falcão da tarde
passarola voadora
[tamanha a saudade]
balão que sobe na linha do Sol,
[no lato horizonte]
e s’evapora, no perto e no longe
[do agora.

antracite
citas-me e eu rio;
desnudas-me e nem sequer sinto brisa
[tão pouco o frio]
e vestes-me da roupa de ti
nas vestes de seres, a parte que sinto,
faz parte de mim.

e agasalhas-me a alma
e enroscas-me a fala em fusos confusos
em latitudes de carne
em longitude d'abismo e d'astúcia
de verde e vermelho
na folhagem e no acervo
na cor da bandeira – Maria da Fonte, mulher inteira...

e somos poema
e somos cisternas de pluviais águas
e lobos do mar e ilhas perdidas
e velas latinas
a naufragar!

... nada mais!


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Autor
Mel de Carvalho
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 02/09/2008 19:44  Atualizado: 02/09/2008 19:44
 Re: antracite
"e se voo e sou monga
e se vento e o vento me sopra
e se volto
e sou diáfana de louca "

E eu digo, Meu Deus, quanta beleza há nos versos dessa mulher!
Beijo.