Refulgem projectadas no azeviche enxaguado
do pó de todas as estradas, flores ainda por nascer.
Migrantes, de um tempo resguardado, no
silêncio conchavado, no gérmen ou na semente.
Em que, reconhecida, só a voz!
A voz das coisas, esta que me sopra ao ouvido
e me faz olhar mais alto e mais profundo.
A voz, a respirar no rosto desconhecido onde nascem
os teus olhos. Irisadas gelatinas. Nas tuas pupilas
vitrais de estrelas debruçadas e nas sobrancelhas
erectas a amover trevas ancestrais.
Reconhecida, só a voz.... da palavra destilada,
conluiada. Tanto pó, tanto caminho ...
Fala-me de ti. Deste tempo em que foste
apenas cisco, seixos, búzios, areais ou correntes...
Deste tempo em que foste animal misterioso
Jaguar felino a adejar na flor marítima do mar ...
Fala-me de novo. Tenho todo o tempo do mundo
para te escutar. Fala-me dos seios lácteos e salinos
onde descansaste o teu corpo a navegar.
Que os quero amar. Que alimentado te trouxeram
de novo a mim. Fala-me desse Sol ávido e quente,
desse Sol alaranjado, esse que trazes colado
à tua pele, profuso. Fala-me desse tempo difuso,
em que sonhado, permaneceste a meu lado,
na boca verde do beijo e no relampejar do desejo...
Anda, senta-te aqui sereno a meu lado, neste alpendre
enfeitado, no beiral das espécies recrudescidas.
Oiçamos agora os seus chilreios. Maneios de novas vidas...
Fala-me de ti!...
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