é dia na calçada e há ao longe um cigarro mal apagado, ao dobrar a esquina o homem de gabardine vestida e guarda chuva na mão, faz frio e a chuva está coalhada nas nuvens. ao balcão uma mulher ajeita a gola da camisola de lã, o empregado segura os pacotes de açucar enquanto tira dois cafés. a tua mesa é ao fundo, estás com o ombro encostado ao vidro, os teus olhos são agasalho de uma rua de inverno. na rua paralela a essa é um vaso com uma planta a morrer, a terra não é regada à mais de uma semana e a flor, ou o que resta dela, está pálida como o teu galão. tu acendes um cigarro e reparas que o teu isqueiro já não tem gás, estás entediado e ainda assim sorris de ti mesmo. o relógio do café tem dois seguranças que são garrafas de aguardente velha. são sete horas na manhã de novembro. entra uma corrente de ar pela frincha da porta, tu sacodes as migalhas de torrada para o chão enquanto o empregado te olha de soslaio. olhas a rua parada no semáforo ao meio, estás triste mas ninguém dá conta.
. façam de conta que eu não estive cá .