levantar-me e olhar a chuva a florir no vidro da janela, vestir-me à pressa com olhos postos no despertador sem pilhas, lavar a cara, agarrar uma maçã e sair com o casaco na mão e a mochila às costas. a rua está doente e há algumas ambulâncias a cruzá-la, um velho ao fundo vende castanhas e um cheiro a outono entra-me nas paredes do corpo que é casa morta. fecho os olhos enquanto visto o casaco e a minha pele é frio sobre uma lã grossa. respiro a densidade do ar, o ar é gélido, quieto, sossegado e espera sempre a um canto, espera que o venhamos buscar. eu ando para o outro lado da rua e os meus pés em galochas de tons escuros tornam-se abrigo de uma estranha inquietude.o relógio da sé conta as doze horas devagar e o inverno que é céu nublado enche-se de chuva. corro. páro na esquina e olho a rua que de doente grave morre. sento-me de pernas cruzadas num chão inundado e espero a minha morte com o inverno aos pés. está frio.
. façam de conta que eu não estive cá .