QUERIA SORRIR
Queria sorrir, queria cantar...
Mas vejam só, que azar!
Perdi o último carro metrô quem diria?
Que depois de mais um dia,
De sufoco e agonia, perco o metrô!
Isto é mais do que azar,
É a mais pura das ironias.
Pois eu aqui pobre coitado,
Já com as tripas dando nó,
Com esta fome que é um açoite
Sem dinheiro e dentro da noite,
Vou cortando a solidão.
Queria sorrir, queria cantar...
Mas o mundo não me ensinou.
Apenas me empurrou,
Jogando-me nessa loucura.
Na garganta tenho um nó,
No coração muita agonia,
Cinco filhos sem companhia,
Que dormem muitas vezes
chorando, de barriga vazia.
Olha,...não consigo nada mais entender!
Pois o dia passou e o sorriso não brotou.
Já é quase meia noite,
Vai chegar a madrugada.
O patrão passa com sua gata,
Num belo carro de marca,
Muito embora saiba ele
Que parte deste carrão,
Foi com o suor do trabalho,
Aqui desse pobre João.
E agora de longe me vê,
Eu correndo e ele amando,
Sentado no seu carro
E eu cansado tentando:
Chegar em casa pra beijar os filhos,
Esquentar o rango e me esconder do frio,
E dizer mais uma vez ao mundo:
Eu quero um dia sorrir.