Contos : 

A Fortuna Do Coroné Patricio

 
A Fortuna Do Coroné Patricio




-Arre, homi, e é desse jeito, é?

-Tô lhe dizendo compadre Lima, o homi tá avariado , num sabe? Olhe, o mestre Lucindo chegou agorinha mesmo bufando aqui, contou a história todinha...Diz que o amigo dele chegou cedinho lá da capital e o Patricio fez ele andar por três caminhos diferentes com a mala pesada, até chegar na casa grande. Ele agora está com essa mania de perseguição, acha que todos são espiões no seu encalço.

Esse dinheiro não fez bem não, compadre...era melhor na pobreza...

-É verdade Bastião, dinheiro grande na mão de pobre besta, dá é muito problema num sabe? O amigo acha que ele fica por aqui?

-Vixe, se ele tá doido assim é melhor ficar...Lá na cidade eles vão internar o diabo num “manicômio” e ficar com a grana todinha ou o governo pega...

-É mesmo homi?

-Apois eu num sei...Vivi por lá cinco anos, aquilo é uma selva fechada, cobra engolindo cobra, quem tiver pé que corra !

-Eu penso em ir mais tarde cumprimentar a visita, sabe como é, fazer as honras do lugar já que sou o vizinho mais próximo...

-Vá sim compadre Lima, o senhor sendo homi respeitado, quem sabe até dê um alento a esse pobre viajante que foi se enterrar justo lá na toca do louco...não é mesmo?

-Sim mas se eles eram amigos lá na cidade, vão se entender...

-É verdade. Eu vou ficar aqui no meu cigarrinho de palha um pouco mais... inté compadre!

-Inté Bastião. Adepois eu conto tudo!

Assim os homens se despediram. Mas a conversa pela cidadezinha era a nova condição de Patrício que virou “homi” rico depois que o patrão lá da cidadede São Paulo, homem afortunado e solitário lhe deixou a fortuna.

Patrício voltou à terra natal comprou a ex-casa do prefeito, contratou quatro homens fortes e armados para sua segurança pessoal e vivia ali neurótico, na vida nova de fartura, ele que já havia gasto todos os seus dias submetido ao confinamento de cuidar do ex-patrão por vinte anos sem folgas. No fim, foi recompensado com a conta polpuda do velho diplomata e fanfarrão solteiro.

E já não confiava em ninguém, expulsou a velha companheira achando que ela fedia a querosene -por sorte não tiveram filhos, porque Patrício era estéril- conquistou uma dona muito bonita, filha solteirona do fazendeiro Lucas,que aliás, era agora seu sócio, e mandou chamar o amigo Luis o professor das letras, para fazer as vezes de secretário pois no banco nunca confiou.

Tornou-se com o tempo um homem temido e abusado, dominou todo o comércio, sucateando as coisas e fazendo lobbies que lhe rendiam mais dinheiro e promoção junto aos políticos e coronés da redondeza, filho do lugar que era.

Viveu por mais vinte anos ao longo dos quais constituiu um império e quando morreu demente e doentes das pernas, deixou a herança para o secretário Luis que passou também todo esse tempo de vida confinado, sem querer familia, apenas cuidando dos interesses do coroné Patricio o homem mais invejado da região.



Nina Araújo


O poeta Walmar Belarmino assim diz:
“CORAÇÃO DE POETA É TÃO SENSÍVEL,
TÃO SENSÍVEL DE UM JEITO IMENSURÁVEL
QUE CONSEGUE SENTIR O INAUDÍVEL
E BEIJAR COM LEVEZA O INTOCÁVEL
VER UM DEUS EM CADA MISERÁVEL
E CHORAR PELA DOR DE UM OPRIMIDO
MESMO ...

 
Autor
NinaAraújo
 
Texto
Data
Leituras
771
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
4 pontos
4
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
jaber
Publicado: 27/08/2008 16:42  Atualizado: 27/08/2008 16:42
Membro de honra
Usuário desde: 24/07/2008
Localidade: Braga
Mensagens: 2780
 Re: A Fortuna Do Coroné Patricio
A prova k dinheiro é preciso sim, mas não é em si sinónimo de felicidade. O uso da linguagem popular a ilustrar o texto está delicioso...


Bjs


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 27/08/2008 19:15  Atualizado: 27/08/2008 19:15
 Re: A Fortuna Do Coroné Patricio
uzura e fortuna levam alguns indivíduos a uma ganância sucessória sem fim.
Fica nóis aqui cum nosso cigarrinho de paia e uma pinga boa. né? o resto é esquentá os miolo no sol cum trabaio e de noite vê o alumiá da estrelas pra durmi em paz.

Gostei da prosa Poetisa. Um beijo e meu afetuoso abraço Nina.
Silveira