Essa fonte, minha lembrança
Conheci uma velha fonte cujas lendas remontam à monarquia,
Fica perto de um belo monte
Que se estende até a pequena ria.
Velhos que lá bebem
A agua santa que dali brota,
Em cada balde cheio que erguem
Recordam mais uma derrota.
Numa vida de trabalho
Em que o descanso desconhecem,
Sem que o esforço fosse recompensado
Assim todos os reconhecem.
E já de noite todos se juntam
Numa taberna animada,
Populares bebem e cantam
Esquecendo a vida enublada.
E eu retiro-me...
Em passos lentos pela calçada gasta
Tento esquecer aquela gente que invejo,
Porque para mim nada basta
E eles apenas se contentam com o desejo.
Esse desejo de um dia voltar ao poço
E relembrar os momentos difíceis que lá passaram,
Quando eram crianças ou simples moços
Que lá se banharam e brincaram.
Quero ser como vós simples trabalhador
Soar com um sorriso no rosto,
Ter cales nas mãos e feridas sem dor
Trabalhar desde a manhã até ao sol-posto...
E de noite adormecer junto ao rebanho
Ou numa cave junto ao forno,
Pois vontade disso eu tenho
Ser um simples homem sem dono.
Sem desejos materialistas
Sem eternos sonhos ou ilusões,
Ser um simples realista,
Ser feliz com alguns tostões.
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Aos meus avós.