Em mim dormiam papoilas roxas de sangue
amarfanhadas. Feridas, as noites,
distraídas de serem dias,
ondulavam em madrugadas continuamente vagidas,
no choro silenciado do meu canto.
Gemidas, em monossilábicas palavras.
Velhas, estafada, gastas, escorridas
na carne putrefacta, rasgada, dos dias suicidas.
Rumorosos os ventos nórdicos, empapavam em gangrena
as pedras escorregadias das ruas, na lama
que, teimosamente,
subia do sopé ao planalto da montanha.
Liames recobriam na pele dos búzios e nas águas
os dias pardacentos,
em desenhos neutros d’alentos ...
O corpo espigava embrulhado no sexo das lágrimas
escoadas.
E na fronteira da campina, aranhas agigantadas
mordiam as bocas das cigarras,
aglutinadas nos ghetos armados de pedras das calçadas.
Tu chegaste!...
Trazias a claridade das labaredas disfarçadas de palavras...
E o doce das avenas nas tuas ternuras longas e serenas.
E o ímpeto movimento na plasticidade do vento ...
Todo o meu ser se preparou para o teu toque ...
extático de tão lento. O corpo encrespou a curvar convexo
o rio no horizonte. Torrente intempestiva brotou do âmago
de uma secreta fonte. Num cântico murmurante,
foste em mim, és agora um nómada viajante ...
És poema, meu eterno amante!
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