Recortei, em tempo-criança,
Um coração de papel,
E brinquei com a esperança
Dum amor sempre fiel.
De tanto andar junto ao peito
Do meu precoce namorado,
Acabou roto e desfeito,
Como o nosso ardor - apagado!
Escrevi, em tempo-ilusão,
Uma doce carta de amor,
E escondi do meu coração
A ameaça crua da dor.
Mas perdi-me nesse instante
Por não soltar o meu grito.
E a ferida, dilacerante,
Ainda hoje, em mim, a sinto!
Prendi-me, num tempo-jovem,
Numa teia de paixão carente,
E quis sonhar o meu homem
Sem ver seu fundo, de frente.
Deixei arrastar minh' alma
Na lama dum rio sem foz,
E só encontrei maré calma
No veludo da tua voz...
Senti, em tempo-efémero,
Sabor de terna comunhão,
O roçar de almas-gémeas,
No toque quente da tua mão.
Mas o fio do meu prumo
Feriu as cores do arco-íris,
E forcei o nosso rumo
Por entre as dores que não quis.
Olhei, em tempo-final,
As pegadas que deixei,
E vislumbrei um sinal
Do futuro que não sonhei...
O tesouro que amealhei
Parece ter novo brilho
Nas trevas que desflorei,
Ao desbravar meu caminho.
Guardo, no limiar do Tempo,
As riquezas partilhadas,
Das lágrimas que não lamento,
Das alegrias roubadas...
Teresa Teixeira