Há uns dias para cá que o escritor se anda a sentir morto, sem vontade de respirar as letras da forma viva que sempre fez. O sentimento é real e apalpa-se em todos os pontos, mesmo nos que não se vêem. As frases são desconexas e até brutas, parecem todas lugares comuns copiados de outros lugares comuns e não dizem nada que se ouça. O escritor quer escrever, força-se a escrever, tenta manter-se longe dos contágios mortíferos e fáceis mas, tudo o que vê, lê ou produz parece inquinado, envenenado e baço. Dói-lhe a escrita e ninguém sabe.
Rodeado de sins e nãos, nenhum lhe parece verdadeiro. A paranóia é legítima e põe-lhe a verdade à prova. Os outros escritores seus amigos mordem-no, porque escrevem e escrevem e escrevem e ele já não os lê como lia. Não consegue.
Há uns dias para cá que o escritor se interroga se deve continuar. Se lhe vale de alguma coisa fazê-lo. Lá continua por vício.
Não há nada que lhe diga que o seu esforço vale a pena e, ele, não se adequa a uma forma que não é a sua.
Há uns dias para cá que nele não se sente mais do que um escriba.
Valdevinoxis
A boa convivência não é uma questão de tolerância.