dói-me, tão dentro, tão fundo que não sei onde me dói. e mexe-se como uma árvore ao vento, cai como um copo que a mão arremessa contra a parede, cai assim como a flor que murcha entre as rugas das tuas mãos ainda mortas. quando a morte te tocou ainda ouvias o chilrear dos pássaros lá fora e acordavas com a voz de um galo ensonado, hoje não dormes para não acordar, não sorris para não chorar e a tua cara é estática, quieta, tão demasiado quieta que pareces uma estátua a cair devagar. as estátuas também caem, também morrem. o teu corpo é cinza em chão queimado, fogo alastrado por um verão de agosto onde todos os incendios foram de fogo posto. espero, na calma de um candeeiro a sombra de um dos teus pés a antecer a sombra do outro, depois os dois e o corpo e quando olhar para trás está-te de volta o movimento. espero enquanto te olho o mesmo gesto de sempre, uma mão sobre os joelhos, a outra segurando flores, a cabeça tomba para a direita e os pássaros, que antes apenas cantavam lá fora, hoje são teus inquilinos e é o teu corpo um bonito prédio com vista para um mar, de lágrimas.
. façam de conta que eu não estive cá .