Por vezes sinto-me acordar num estranho pesadelo. Como se tudo o que me fosse exterior permanecesse imutável mas todas as minhas escolhas passadas deixassem, dum momento para o outro, de fazer sentido e eu esvaziando-me passava a ser uma sombra sem passado nem futuro.
Caminhando sem pressa num mundo do qual á muito tinha cortado as amarras. Sem vontade de interagir a acção não chega e a salobra paz continua nos lábios de todos.
Esquecendo-me de como se sente mágoa tento a custo secar as lágrimas e lamber as feridas alheias, saboreando lentamente as dores, sempre desejando que fossem minhas. Um esgar que era um sorriso rasga-se numa face imemorial e sinto a Vida em tudo o que me rodeia.
Olhando á volta vejo-me a mim mesmo, um manto cobrindo tudo o que conheço, condicionando o mundo á pequenez do meu olhar e esmagando-o com o meu sentir. Fazendo com que os meus desejos abram ou cerrem os olhos á Justiça, crio uma nova ordem baseada apenas em quem sou.
Na ânsia de mostrar as boas novas calo-me para sempre e tento ser um qualquer novo Buda. Depressa me canso de apatia e fumos densos e começo uma marcha que me vai levar ao fim do meu tempo.
Enquanto caminho sem olhar para lado algum sinto o barulho esvair-se e em breve apenas oiço o respirar da vida em tudo o que è.
Tudo brilha e a paz é tão intensa que aquece os ossos, fortalecido pela distância caminho para o fim que se quer glorioso sem jamais duvidar de que é esta a minha maneira de amar.
A necessidade estará em escrever ou em ser lido?
Somos o que somos ou somos o queremos ser?
Será a contemplação inimiga da acção?
Estas e outras, muitas, dúvidas me levam a escrever na ânsia de me conhecer melhor e talvez conhecer outros.