O HOMEM VÃO
Queria capturar, ainda que por um átimo,
A luz cuja têmpera emana de uma águia entregue ao gozo do vôo.
Sim, assim eu poderia abjurar aos meus escrúpulos
Para seguir o rastro do orvalho á minha frente.
E
Não ter de ponderar sobre o efeito das conseqüências duma opção
Que escolhi
E
Não ter de encarar diariamente o semblante das boas escolhas
Que não fiz
E
Não ter de procurar relevo na latitude do degenerante vácuo
Que jaz cimentado no chão de mim.
Sim, eu queria que, ao ser levado pelo galope do orvalho,
Quando chegássemos a seu destino ocioso,
Eu pudesse encontrar o púlpito, as asas do Pégaso, o nobre
Enlevo.
É, mas acontece que eu não sou a águia;
Não capturo a sua luz:
Na verdade, eu sou um vaga-lume opaco
Que não consegue sobrevoar o dardejante mar etéreo de estrelas.
Por isso sou o mais soez dos pós, o látego de mim, o que há de Mais
Nulo
Em si mesmo.
Queria capturar, ainda que por um átimo,
A luz cuja têmpera emana de uma águia entregue ao gozo do vôo.
Sim, assim eu poderia abjurar aos meus escrúpulos
Para seguir o rastro do orvalho á minha frente.
Mas não, as minhas mãos são asas que voam sobre o desgostoso
Céu da sofreguidão. Sofreguidão que lacera mais do que navalha
Quando expõe o cabal estigma das feridas:
Sim, eu falo das vísceras do verdadeiro elixir da vida.
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA