Carminha sabia que o marido nunca a deixaria pegar naquele carro, desde o início estava definido que o jipe era “só dele”, e embora saíssem sempre juntos, jamais admitiu a “traição” com aquele veículo estimadíssimo. Aliás; aquela era mesmo uma família gozada- Carminha pensara- o marido com o jipe, o sogro com a gata Mimosa, o cunhado com a coleção de orquídeas...
Pensou que talvez pudesse ter também algo bem especial para se apegar, mas não tinha tanto tempo para isso, uma vez que, sua agenda no trabalho de depiladora era extensa, e se dividia entre o Rio e São Gonçalo, onde morava.
Naquele sábado Carminha atravessou a baía chorando tanto na barca, que os passageiros ao redor se preocuparam:
-Moça a senhora está precisando de alguma coisa? perguntou um rapaz.
A depiladora apenas balançou a cabeça negativamente, e continuou naquele sofrimento por todo o trajeto até Copacabana, lá chegando desabou na cama de massagem - sim porque Carminha, era também grande massagista- as amigas e a patroa correram para saber o que tinha acontecido e naquele dia o expediente atrasou por meia hora.
-Eu matei ela! Eu matei ela! dizia Carminha de forma desconexa.
-Quem você matou Carminha? Deixa de tolices ! a patroa perguntava nervosa.
-Eu matei a Mimosa, Raquel... agora a coitadinha está lá, eles já devem ter achado ela... ai meu Deus...como vou dar conta disso? chorava Carminha agora mais forte.
-Que Mimosa? Aquela gatinha do seu sogro? Ai, caramba ! falou a espevitada Jurema.
-Eita,Carminha!!! Conta, conta como foi? as amigas perguntavam.
-Eles saíram cedo para uma reunião lá na igreja, daí eu imaginei vou ligar esse jipe só para ver como é, desci liguei a chave e estava feliz ali, de repente fiz alguma coisa e o carro deu dois passos para trás, escutei o gritinho da Mimosa...
-Ela morreu? perguntou a patroa
-Nem quis ver, engatei o jipe para colocar no lugar que ele estava,tremendo de tão nervosa...
-Ai Carminha... disse a patroa Raquel
-Ó...eu não quero te enganar não Carminha, mas tu matou a Mimosa duas vezes, mulher!!! tinha que ser a Jurema a falar isso.
-Eu...eu acho também que matei ela duas vezes...pra frente.... e pra trás... ai meu Deus, que vou fazer?
-Olha. Acalma os nervos!!! disse a Raquel
-Presta atenção!!!Tu vais ficar quietinha aí...como se nada houvesse!!!Para todos os efeitos, tu saístes de casa normalmente para trabalhar...e aqui ninguém sabe de nada,ouviram?
-Sim!!! Todas falaram
Aquele foi um dia muito tenso,aos pouquinhos as coisas entraram nos eixos, afinal; a agenda lotada, pouco se podia pensar.No sábado o expediente terminava às quatorze horas, mas lá pelas treze, Raquel recebe um telefonema em que avisa que seu Netinho sogro de Carminha havia tido um piripaque e estava internado mas passava bem.
Imaginem vocês que ele foi tirar o jipe do filho da garagem e sem querer atropelou
sua gatinha de estimação,porém o bichinho estava milagrosamente bem,apenas sem o rabinho peludo que ostentava.
Como Jurema deu a notícia alto e forte com a potência de sua voz de trovão,só se ouviu o barulho do tombo na sala de massagem.
-Que foi aí em cima? a patroa perguntou
-Carminha desmaiou!!!!!!!
Lá no barzinho,depois da saideira e já pensando no domingo, as meninas brindavam a gatinha Mimosa, brindavam a semana e também riam muito de Carminha que já estava ali recuperada entre elas, mas tinha pressa para pegar a barca e visitar o sogro e ver a gatinha durona.
Nina Araújo
O poeta Walmar Belarmino assim diz:
“CORAÇÃO DE POETA É TÃO SENSÍVEL,
TÃO SENSÍVEL DE UM JEITO IMENSURÁVEL
QUE CONSEGUE SENTIR O INAUDÍVEL
E BEIJAR COM LEVEZA O INTOCÁVEL
VER UM DEUS EM CADA MISERÁVEL
E CHORAR PELA DOR DE UM OPRIMIDO
MESMO ...