A Cozinheira De Dona Guigui
Zenilda era uma pessoa completamente desprovida de “ nonsense”.
Na cozinha sim, era ‘hours concours” nos guisados espanhóis, nas paellas...
Dona Guigui Pompidou a aconselhou nos traços culinários por todo tempo em que não esteve entediada, agora só falava francês e a comunicação ficara mesmo quase impossível, a dona cismou que não nasceu no Brasil, nem nunca fora pobre – imagina,essa palavra nem era reconhecida – bem, apenas a cozinheira espevitada, sabia de seus tempos de manicura lá em Macaiba no quente torrão nortista.
E o quanto a patroa deu duro como doméstica, babá, cozinheira e chef de buffet, até conhecer o conde e tudo mudar para ambas.
Mas dona Guigui- na verdade Guiomar- se recusava agora a falar a língua natal. Aquilo estava acabando com Zenilda:
-Onde já se viu, mandar o motorista ir embora em francês...essa “ ruça de uma figa”, um dia aceito a proposta de monsieur Lancaster, e vou ser sócia dele lá nas cantinas de Ceilão ou de Milão, ai como estou cansada disso...se não fosse meu pai doente, eu me livrava dessa galega tampinha...
Falava, torcia o nariz, mas era seu fiel escudeiro. No começo havia sido difícil para elas, numa terra estranha, com tudo por aprender, se não fosse a dedicação integral do conde -aquele santinho- nem dona Guigui havia suportado tamanha pressão.
Por conta dos negócios com o vinho, aceitou acompanhar os patrões nesta estada de um mês por São Paulo, seria uma chance de voltar ao seu país tropical, quem sabe não pudesse levar o namorado brasileiro Carlão, mas como esperar coragem daquele pobre burro de carga da família que o explorava a mais não poder, jamais teria a coragem suficiente para acompanhar a comitiva do conde.
-Zenilda, venez ici, si’l vous plaît...rapide...rapide... falava alto a madame.
-Que diabo a “bisca” quer ? pensou Zenilda para logo depois responder:
-Oui,madame. Voulez vous quelque chose?
-Mais oui...rapide... respondeu já aflita a dona
Ela queria um jantar para cinco pessoas, e Zenilda teria o reforço de um garçom e uma assistente. Porém o melhor é que poderia sair às vinte e duas horas, e então seria muito feliz no primeiro forró que pudesse chegar com aquele seu sotaque nortista francês e castellano...
E como podem ver, essa era a vida da cozinheira de dona Guigui, o que se há de fazer...
Nina Araújo
O poeta Walmar Belarmino assim diz:
“CORAÇÃO DE POETA É TÃO SENSÍVEL,
TÃO SENSÍVEL DE UM JEITO IMENSURÁVEL
QUE CONSEGUE SENTIR O INAUDÍVEL
E BEIJAR COM LEVEZA O INTOCÁVEL
VER UM DEUS EM CADA MISERÁVEL
E CHORAR PELA DOR DE UM OPRIMIDO
MESMO ...