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Vertigem!

 
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Corpos parados num ponto.
Olhares cúmplices entre quem não se conhece.
O ouro rebrilha e os papalvos são mais que muitos.
O cortejo passa lento e solene e nem eu abro o bico.
O declinio pavoneia-se á minha frente e eu sem forças.
Com os pés bem fincados no chão observo o que me rodeia.
O que deveria ser puro, natural, justo, acabou transformado num enorme jogo de bastidores onde tantas vaidades ardem mais alto que nunca.
Homens tão medrosos quanto merdosos teimam em deixar um testemunho podre a todos quantos ficarem após a sua sentida, por quem?! penso eu, partida.
Os mamarrachos fisicos e mentais crescem a olhos cegos e em breve nada é o que parecia ser. Os sistemas, os ideais, os conceitos e pré-conceitos, os amores e ódios, a insensivel justiça e o tão injustiçado e incompreendido Amor, tudo isto me parece absurdo e me causa um enjoo perene e crescente.
Partilho tudo o que sou e tenho, na esperança de que seja esta a sementeira correcta. Confiando na ordem natural das coisas não forço as espécies a ir onde não querem e espero, espero sempre com a firme confiança de que tudo acabará melhor.
Recebo sorrisos e belas palavras de aceitação e estímulo. Ouvindo as palavras, ocas, observo os actos e sinto a egótica energia vinda de quem me ama.
A tristeza vem de mansinho e sou obrigado a contemplar os frutos que também são meus. Tudo na vida é um pau de três bicos e eu sem vontade de espicaçar quem quer que seja.
Apenas o simples me rouba sorrisos tudo o resto me causa a mais estranha vertigem.
Sinto-me descolar deste mundo e de mim mesmo.
Ainda que temendo ficar vazio esvazio-me de tudo o que não sou eu e teimo em existir melhor que nunca.


A necessidade estará em escrever ou em ser lido?
Somos o que somos ou somos o queremos ser?
Será a contemplação inimiga da acção?
Estas e outras, muitas, dúvidas me levam a escrever na ânsia de me conhecer melhor e talvez conhecer outros.

 
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Paulolx
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 18/08/2008 11:10  Atualizado: 18/08/2008 11:10
 Re: Vertigem!
Gostei do poema, e como diz José Saramago, «Se podes ver, olha. Se podes olhar, repara.»

DM