"Inês de Castro chegou a Portugal em 1340, integrada como aia no séquito de Constança Manuel, filha de João Manuel de Castela, um poderoso nobre descendente da Casa real Castelhana, esposa, por arranjo dos pais, do príncipe Pedro, herdeiro do trono português. Era tão invulgar a formosura de D. Inês, que logo o príncipe-real se deixou impressionar, vindo a apaixonar-se por Inês pouco tempo mais tarde. Tal romance começou a ser comentado e mal aceite na corte e pelo próprio povo.
El-Rei D. Afonso IV, Senhor de brandos costumes e firme de valores não aprova tal relação, uma vez que Pedro era casado com D. Constança Manuel, então manda exilar Inês no Castelo de Alburquerque, na fronteira espanhola, em 1344. No entanto, a distância não apagou o amor entre os dois apaixonados e, segundo a lenda, continuavam a corresponder-se com frequência.
Em Outubro do ano seguinte, Constança morreu ao dar à luz o futuro Fernando I de Portugal, deixando Pedro viúvo. Pedro manda regressar Inês do exílio e os dois foram viver juntos para sua casa, vivendo em maridança, o que provocou grande escândalo na corte, para enorme desgosto de El-Rei seu pai. Começa então grande desvario entre o Rei e o Infante.
D. Inês tinha dois irmãos e uma irmã. D. Pedro depressa fica íntimo dos irmãos de D. Inês - Fernando de Castro e Álvaro Pirez de Castro - o que nada agradava aos fidalgos da corte que foram criando várias intrigas junto do velho Rei Afonso, já de si estava magoado com a rebeldia do filho.
D. Afonso IV tenta remediar a situação casando de novo o seu filho com uma dama de sangue real. Porém, Pedro rejeita tal situação alegando que sentia ainda muito a perda de sua mulher Constança e que não conseguia ainda pensar, de novo, em casamento. No entanto, fruto do namoro de Pedro e Inês, vão surgindo um após outro, filhos: Afonso (que morre pouco depois de nascer), João, Dinis e Beatriz.
O aparecimento desses filhos foi novo desastre que, ainda mais, veio agudizar a situação já de si difícil. A história de Portugal e Espanha estava cheia de casos de situações embaraçosas e perturbações graves provocadas por filhos ilegítimos; o próprio monarca não esquecera as situações incómodas que teve com os bastardos de D. Dinis e que o fizeram perder a serenidade e o respeito pelo seu pai, para grande desgosto da Senhora sua mãe, a virtuosa Rainha Santa Isabel.
Por essa altura, Espanha encontrava-se em grave agitação, após a morte de Afonso XI. O reinado de D. Pedro, O Cruel, de Espanha, estava a ser complicado. Os irmãos de Inês tentam Pedro a juntar os reinos de Leão e Castela a Portugal, pois Pedro era, por sua mãe, neto de D. Sancho IV. Chegam em 1354 a convencer Pedro a pôr-se à frente da conjura, proclamando-se pretendente às coroas castelhana e leonesa. Foi novamente a intervenção enérgica do Afonso IV que evitou que tal sucedesse. O Rei Afonso sempre se manteve numa linha de neutralidade, abstendo-se de intervir na política de outras nações, o que lhe permitia paz e respeito perante a comunidade internacional. Ora estas conspirações em que Pedro se envolvia no país vizinho podiam comprometer tudo.
Para incendiar mais ainda a situação, querem fazer crer a Afonso IV que os Castros queriam ver o Infante Fernando assassinado, uma vez que era ele o sucessor de Pedro, e não os filhos resultantes da sua união com Inês. O monarca vê o seu coração amargurado e vê-se no meio de uma trama que só ele podia resolver. A culpa de tudo era aquela mulher de nome Inês.
Assassinato de D. Inês
O que começou como um simples incidente de família assumiu as proporções de um gravíssimo caso político de alta importância. O rei Afonso IV decidiu então que a melhor solução seria matar Inês para livrar o filho de tais amores. Depois de alguns anos ao Norte, Pedro e Inês tinham regressado a Coimbra e se instalado no Paço de Santa Clara, mandado construir pela avó de Pedro, a Rainha Santa, que nele viveu os últimos tempos da sua vida e que tinha desejado que fosse habitação exclusiva de Reis e Príncipes descendentes dela com as suas esposas legítimas.
Corre o boato de que o Príncipe tinha casado secretamente com Inês. Na tentativa de saber da verdade da história o Rei manda dois conselheiros seus dizerem que Pedro podia se casar livremente com Inês se assim entendesse correcto. Pedro, inteligente e audaz, percebeu que tal generosidade só podia tratar-se de uma cilada e respondeu que não pensava casar-se com Inês. A intriga fervilhava cada vez mais acesa em torno do Rei.
A 7 de Janeiro de 1355, o rei cedeu às pressões dos seus conselheiros e do povo e, aproveitando a ausência de Pedro numa excursão de caça, enviou Pêro Coelho, Álvaro Gonçalves e Diogo Lopes Pacheco para a matarem. Os três se dirigiram ao Mosteiro de Santa Clara em Coimbra, onde Inês se encontrava, e mataram-na tal como uma nobre deve morrer. Com a espada fina. Segundo a lenda, as filhas do Mondego choraram a morte de Inês e as suas lágrimas tornaram-se na fonte dos Amores da Quinta das Lágrimas e algumas algas avermelhadas que ali crescem são o sangue derramado por Inês.
A morte de Inês fez com que Pedro se revoltasse contra Afonso IV, que responsabilizou pela morte, e provocou uma sangrenta guerra civil entre irmãos. A rainha Beatriz interveio e, após meses de luta, a paz foi selada em Agosto de 1355.
A história trágica de Pedro e Inês é contada no canto III de Os Lusíadas, de Luís de Camões:
"Estavas, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo doce fruto,
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a fortuna não deixa durar muito,
Nos saudosos campos do Mondego,
De teus fermosos olhos nunca enxutos,
Aos montes ensinando e às ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas".
Rainha póstuma
A história de Inês de Castro em rótulo de cigarro.Pedro se tornou o oitavo rei de Portugal em 1357. Em Junho de 1360, faz a famosa declaração de Cantanhede, legitimando os filhos ao afirmar que havia se casado secretamente com Inês, em 1354 "em dia que não se lembrava". As palavras do rei e de seu capelão foram as únicas provas desse casamento.
O novo rei perseguiu os assassinos de Inês, que tinham fugido para Castela. Pêro Coelho e Álvaro Gonçalves foram apanhados e executados (segundo a lenda, o Rei mandou arrancar o coração de um pelo peito e o do outro, pelas costas, e assistiu à execução enquanto se banqueteava). Diogo Lopes Pacheco conseguiu escapar para a França. Mais tarde foi perdoado pelo rei no seu leito de morte.
Pedro mandou construir dois esplêndidos túmulos - os túmulos de D. Pedro I e de Inês de Castro - no mosteiro de Alcobaça, um para si e outro para onde trasladou os restos de sua amada Inês. A tétrica cerimônia do beija mão, tão vívida no imaginário popular, provavelmente foi inserida nas narrativas do final do século XVI, depois de Camões descrever, no Canto III d'Os Lusíadas, a tragédia da linda Inês, fazendo referência à "mísera e mesquinha, que depois de ser morta foi rainha". Pedro juntou-se a Inês em 1367 e os restos de ambos jazem juntos até hoje, frente a frente, para que, segundo a lenda "possam olhar-se nos olhos quando despertarem no dia do juízo final".
A primeira aparição dos amores de D. Inês na literatura dá-se com as Trovas à Morte de Inês de Castro, de Garcia de Resende, no Cancioneiro Geral de 1516;
A tragédia foi também representada entre o povo, com o teatro de cordel;
Mas é com Os Lusíadas, de Camões, que se constitui o mais influente fundo lírico do episódio de D. Inês de Castro, a "linda Inês", tal como surge no Canto III;
A tragédia A Castro (1587), a primeira tragédia clássica portuguesa, de António Ferreira, foi baseada na sua vida;
Bocage dedicou-lhe uma cantata;
Foi com o Romantismo em Portugal que aumentou o interesse pelos factos históricos associados ao episódio; Alexandre Herculano e Oliveira Martins, entre outros, procuraram investigar, com algum rigor, as pessoas e factos históricos;
Os amores de D. Inês popularizaram-se na literatura erudita, entre outros com os árcades Manuel de Figueiredo e Reis Quita;
Em 1986, Agustina Bessa-Luís (1922-) publicou as Adivinhas de Pedro e Inês;
Outros autores, tais como Luís Rosa e João Aguiar, publicaram livros sobre a trágica vida de Inês de Castro (O Amor infinito de Pedro e Inês e Inês de Portugal, respectivamente)."
A Poesia é o Bálsamo Harmonioso da Alma
A pedido do Luso Edilson José, remeto-vos a bárbara história do destino de Inês de Castro
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