Ainda me recordo de você
E sinto ainda seu cheiro sobre o meu peito
E sinto ainda o cheiro de pão com café que tomávamos juntos
Ainda me recordo dos luxuosos hotéis por quais passamos
E dos lugares horrendos dos quais sobrevivemos...
Ainda me recordo dos jornais matinais que líamos juntos
E das gargalhadas que dávamos dos filmes de comédia
Gosto de pensar nas voltas de bicicleta
E das caminhadas a pé quando ainda
Não tinha nem pensado em possuir um carro...
Sinto falta do bolo de chocolate
E da macarronada aos domingos...
Assistir TV com você ao meu lado
Era de fato a melhor diversão...
Ahhhhhhhhhhh...
Sentia sua respiração
Como era doce...
Seu perfume ainda parece estar em mim...
A ultima noite em que ti vi
Passei acordado ao seu lado
Como se soubesse que não lhe veria mais
E ouvi distante as ondas quebrando na praia...
Até que os pássaros começaram a cantar
Numa alegria insana e num cantar mágico
Que me fez adormecer...
Não lhe vi mais...
Não lhe toquei mais...
Não sei se foi sonho...
Mas sei que de tudo o que me resta...
São recordações do pouco que vivemos...
"Há poemas ininteligíveis nos seus elementos, porque só o poeta tem a chave que o explica; mas a explicação não é necessária para que pessoas dotadas de sensibilidade poética penetrem na intenção essencial dos versos"
Manuel Bandeira