Bom dia meu encanto, temos tido hiatos de comunicação e de desencontros ...creio que estas pequenas grandes coisas tornam-se, presentes em nossas vidas paralelas, aquelas que seguem, almejam objetivos comuns e nunca se encontram.
Percebo um certo distanciamento de A.... e uma Matita contida quase lacônica...por menos que queiramos nos ressentimos de pequenos detalhes no sonho dourado que construímos uma frase infeliz uma divergência da realidade em contraponto ao sonho vem desfazer, reduzir...até magoar.
Não queria perder A...nem Matita, queria sim conhecer todas, mas vejo na tentativa de aproximação, um distanciamento sutil...na procura ainda uma busca, para mim cessou a procura...talvez queira manter a busca...pois brusca e incessante é a necessidade que tenho de companhia.
Gostaria que esta manhã de inverno me trouxesse a vivacidade de Matita os anseios e angustias de A..., onde estão...vou mexer a ferida...você pediu para eu te mostrar o que eventualmente não via...não esqueça sempre existem coisas que não queremos ver...não defendi nem enfática nem timidamente Paulo Coelho, abomino e tenho que me policiar, (pois atitudes negativas e criticas sem analise me fazem mal), toda literatura de auto-ajuda ou assemelhados, não somente pelo nocivo do conteúdo um arremedo no mais das vezes de um adestramento humano ou condicionamento (Pavlov explica Freud é muito para muitos) irreal, mas pelo aspecto que mais me incomoda como editor, o volume de vendas e as campanhas publicitárias que se faz em beneficio destes títulos e em detrimento de outros brilhantes que permanecem empoeirados nas prateleiras... meu enfático discurso foi contra o preconceito tipo... não li e não gosto... não experimentei mas não como... não vi nem quero ver, etc. Anos dedicados ao meu ego me ensinaram que o que menos sou é o que mais preciso...humilde... preciso ser humilde perante a vida. Coelho pelas letras de musica que conheço e as pessoas que o admiram esta longe de qualquer veleidade literária mas sugestivamente em Paris, num encontro de intelectuais e editores e autoridades francesas, François Miterrand se aproximou de Paulo, o abraça e diz textualmente..."Seu livro salvou minha vida, num momento particularmente dificil...obrigado." Miterrand igualmente esta longe de um luminar mas no lado oposto de um medíocre...se de alguma forma Paulo e outros que não gosto ajudam e são lidos por pessoas como um chefe de estado ocupado, talvez tenha quem sabe, quando tiver tempo pelo menos ler para dizer algo. Gosto ainda menos quando são importados como Código da Vinci, e O segredo, etc. Mas creio que um mérito eles têm...despertam em alguns, o gosto pela leitura o prazer de viver ludicamente nas letras. Por poucos que permaneçam como leitores e apreciadores de leituras, um leitor quase invariavelmente é um formador de opinião e vai engrossar nosso mirrado mercado potencialmente tão grande e percentualmente tão insignificante, em Buenos Aires há mais livrarias que em todo o Brasil, isto me envergonha me incomoda. Num país de tantos analfabetos os intelectuais, deveriam ter como dever de oficio, lutar com todas as armas para que o ensino e as artes se popularizassem no sentido de termos uma sociedade mais igualitária e justa e não se evadirem da responsabilidade que o conhecimento lhes deu e viverem em um faustoso e delirante claustro de onde se retiram para o mausoléu dos imortais (imortal...complicado não ?).Creio que esta ojeriza a pobreza de nossa terra e esta elitização do conhecimento nos leva cada dia mais para o lugar comum dos paises emergentes e sem cultura, caso da América Latina e África pois o leste europeu tem cultura própria e os asiáticos também e nós por quanto tempo mais procuraremos nossa identidade nos salões saraus e outros locais tão reservados e fechados.
A maioria dos universitários que conheço, (dei palestras anos atrás em algumas universidades sobre o mercado editorial) nos diálogos que se seguiam, percebia em alguns a vontade de aprender em outros apenas o deslumbramento do mundo acadêmico, da liberdade libertaria tão transgredida. No geral, são muito medíocres para se aventurarem além das necessidades que a universidade lhes impõe para tirarem seus diplomas. O consumo desenfreado de adestramento acadêmico e pós-graduação em tudo, as Universidades como um negócio prospero, na medida do lucro, vergonhoso na falta de ética e de ensino mais nas instituições particulares. Tornou um mercado e um reduto de analfabetos funcionais a quem o direito de intervir de forma positiva no mundo intelectual e humanista que conheci, esta na razão direta da benevolência de quem escuta ou dos professores cujas novas gerações já formadas nesta cruel realidade diferem pouco da mediocridade de suas crias, que lhes impõe um modelo social perverso e deformado onde sempre os fins justificam os meios...juntando-se isto a perda de uma Mestra como Ruth Cardoso (mesmo com opiniões divergentes, não consigo vê-la além da professora e da mulher preocupada com o ensino para as classes menos favorecidas e a qualidade deste ensino) e estas opiniões talvez sejam o divisor de águas que não queria mas creio estar existindo entre nós, talvez em breve esteja ai próximo e possamos ir ao Café Filosófico da CPFL (você certamente arruma convites) para termos um dialogo mais profundo sobre isto, e mais, formas de viabilizarmos nossos sonhos democráticos.
Não temos mais interesses pessoais em nosso relacionamento, que não os intelectuais, outras formas de estreitarmos laços senão uma proposta de ...Nunca te vi sempre te amei ...tenho o vídeo e a cena mais tocante do filme é a do desencontro de ambos em Londres tão próximos e tão longe. De guardarmos esta troca de correspondências e junto as recordações de sonhos irrealizados ou quem sabe da necessidade de ser o que não somos...não sei se teria condições emocionais para tanto...do pouco que sei ... você também parece estar emocionalmente esgotada...se fosse possível te convidaria para um fim de semana no hotel fazenda simples de bangalôs separados por matas, comida caseira e grandes espaços de meditação de um amigo no interior. Poderia fazer um bem enorme, mas creio que em curto prazo, isto seja impossível.
Enquanto pensamos a vida se esvaia em cada respiração, as emoções em cada suspiro, as dores em cada soluço, e fica este sentimento pendurado no peito como uma medalha que conquistamos mas não sabemos porque.
Beijos um grande aconchego, saudades destes olhos verdes, saudades de você...
Que meu abraço encontre o seu sorriso...
Carlos Said
P.S. Hoje estou especialmente emotivo, não me pergunte porque...pois não sei...