Contos : 

É o vermelho !...

 
Quando a casa não era ainda murada, aquela rua parecia muito mais feliz do que costumava ser.
Lembro de episódios pitorescos que, contando agora, pintariam uma novela sadia,dessas que a família toda acompanha.
Aquelas seis casas do meu lado de rua, eram muito especiais para minha adolescência, muitas brincadeiras ao ar livre, disputas de queimado, pique bandeira e, a dona Branquinha...
Essa, sem dúvida, era um espetáculo à parte. Aquele seu jeito baiano de carregar as compras em cima da cabeça, como se tudo fosse uma lata d’água, isso porque aqueles eram tempos de poços caseiros, ainda hoje temos um por lá, quase uma relíquia...
Pois bem, num desses dias muito quentes, dona Branquinha, (que era negra alta e forte) saiu como de costume, para fazer suas compras em Santa Clara, bairro próximo,e não demorou muito até que voltasse apressada, com aquela sacola na cabeça, exatamente do mesmo jeito que sempre fazia. Eu ainda tive tempo de ver lá distante, que ela vinha muito apressada, voltei para a cozinha no intuito de pegar uma xícara de café, e quando virei o rosto, para minha surpresa, a vi passar feito um azougue, sem nada nas mãos, e ela gritava insistentemente para abrirem o portão de casa,tão esbaforida que estava... Não deu muito tempo mas, ainda assim, perguntei:
-Dona Branquinha, o que foi? O que aconteceu?
Ela mal pode me responder, apenas saía aquela frase entrecortada :
-Aí atrás minha filha !! Ai, ai, ai...
O que vi fora inusitado.As compras da coitada todas caídas pelo chão, e uma vaca furiosa corria atrás da pobre vizinha aflita, por certo o animal sofria porque perdera seu bezerro por aquelas bandas,um sufoco para dona Branquinha e também para todos que assistiam aquilo.
Os meninos que soltavam pipa faziam um coro:
-Corre dona Branquinha, e tira a blusa porque é o vermelho, é o vermelho !!!
Por pouco a coitada não consegue alcançar o portão e tirar aquela roupa espanta-vaca.
Imaginem vocês, que naquele dia aprendi mais essa, que as vacas não gostam muito de cor vermelha, ainda mais se já estão tensas...


Nina Araújo.







O poeta Walmar Belarmino assim diz:
“CORAÇÃO DE POETA É TÃO SENSÍVEL,
TÃO SENSÍVEL DE UM JEITO IMENSURÁVEL
QUE CONSEGUE SENTIR O INAUDÍVEL
E BEIJAR COM LEVEZA O INTOCÁVEL
VER UM DEUS EM CADA MISERÁVEL
E CHORAR PELA DOR DE UM OPRIMIDO
MESMO ...

 
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NinaAraújo
 
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Enviado por Tópico
Pedra Filosofal
Publicado: 11/08/2008 10:15  Atualizado: 11/08/2008 10:15
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 Re: É o vermelho !...
coitada da D Branquinha deve ter apanhado um susto daqueles mesmo!