Quem és tu, cuja falta eu sinto? Cujo cheiro eu sinto, quando saio na varanda pra ver o dia que nasce. Cuja voz eu ouço falta sem jamais ter escutado. Cujas conversas eu relembro sem jamais ter conversado.
Quem és tu, pessoa que vive ao meu lado, cuja presença é palpável, cujo toque eu sinto em meu rosto? Que me acalma e me incendeia. Que me tira do lugar comum. Que me coloca em lugar nenhum.
Quem és tu cujo hálito morno em minha nuca incita ao beijo, incita-me a sentir tua pele e teu cabelo, a empurrar-te na parede e colocar tuas mãos no alto, enquanto mordo teu pescoço e te arranco suspiros de prazer realizado?
Quem és tu com quem eu poderia conversar pra todo sempre, mesmo que nunca tenha sequer ouvido teu nome?
Quem és tu, cujo olhar diz tudo, e não diz nada?
Quem és tu, que me enfrenta, que me provoca, que alimenta minha sede, e aumenta minha fome?
Quem és tu, que me faz crer na transcendência e em outras vidas porque quero crer que posso te ter, mesmo que em outros corpos, e outros tempos?
Quem és tu, que me ligas no meio da noite pra dizer que distância maior do que aquela que separa dois lábios em beijo, já é enorme? Porque não existe mais um eu e um você. Só existe um nós.
Quem és tu que não conheço e nem nunca ouvi falar? Que não sei onde calha de estar ou se existirá? E no entanto já sei tudo, e quero saber ainda mais.
Porque tu és o tratamento do mal que consome meus dias.
Eu me alimento de viver, e estou sempre com fome.
Re: Quem és tu?
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