Velho vaqueiro
“Quanta laranja madura
Quanta lima pelo chão,
Quanta menina bonita e
Quanto rapaz bestalhão...
Ô,ô,ô,ô o aboio do sertanejo
Corre o chão desse torrão...”
Essa era a vida do vaqueiro, cuidando do rebanho na lida.
Era umbigueira para curar, era garrote a separar com a responsabilidade que o patrão cobrava no dia a dia, e o cabra ia avexado pra riba e baixo, aboiando e aboiando...
-Seu Domingos, é verdade que o sinhô é feiticeiro? arriscou o menino.
-Passa fora moleque, que já lhe dou uma bifa...onde já se viu,seu pai não lhe ensinou nada, foi?
A vida para aqueles lados fazia lendas.Seu Domingos era uma delas, dizem que sabia de cor e saltado quem ia cair na vaquejada só de olhar a montaria, embora isso fosse fruto de sua experiência, o povo aludia ao fato de que o velho não errava nunca mesmo.
Um dia, seu Antonio Heráclito,irmão candidato do prefeito, foi assistir com a família toda a carreira, e passando pela venda de dona Zefinha, avistou o homem,fazendo questão de lhe tomar o palpite :
-Domingos,tu que é feiticeiro me diga se cai gato hoje?
-Sempre cai seu Tonho,sempre cai...
-Sim,mas me diga quem é que cai?
-Oxê homi,e eu sei não...Meu catimbó é meu alazão e meu cachorro Xaréu...me dê sua licença?
-Tem toda,siga...
Naquela tarde caíram dois, dos nove que faziam a peleja.Bem que seu Domingos pensou alto:
-E eu sabia... tava na venta!
Assim continuou pelo caminho de casa cantarolando um repertório de conhecida procedência.
“Tenho saudade, tenho pena
Das meninas do sertão
Quando é de tardezinha
O aboio que elas dão... “
Nina Araújo.
O poeta Walmar Belarmino assim diz:
“CORAÇÃO DE POETA É TÃO SENSÍVEL,
TÃO SENSÍVEL DE UM JEITO IMENSURÁVEL
QUE CONSEGUE SENTIR O INAUDÍVEL
E BEIJAR COM LEVEZA O INTOCÁVEL
VER UM DEUS EM CADA MISERÁVEL
E CHORAR PELA DOR DE UM OPRIMIDO
MESMO ...