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Bares

 
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Bares

Onofre

O bar do seu Nofre, como era chamado, era o que se podia chamar de um bar familiar. Eram sempre os mesmos operários, nos mesmos horários e dias. Aonde ia acompanhado pelo meu pai, enquanto ele bebia sua cachaça eu jogava mortal kombat no fliperama. Dos meus 8 aos 10 anos, era freqüente a minha visita ao bar do seu Nofre. Por vezes, ganhava doces e refrigerante enquanto jogava o meu fliperama. E os operários, amigos do meu pai, me conheciam como o Carlinhos ou filho do Bazesko. Por sorte, meu pai sempre foi o que chamamos de político, conseguia agradar a todos, era sua natureza. Talvez foi a única pessoa que realmente conhecesse que não era hipócrita neste ponto.

Osvaldo

Neste já na adolescência onde a rebeldia nos toma o corpo, eu matava aulas no colegial agora não apenas para jogar (não mais o fliperama) e sim também para beber. Iniciava-me no álcool com pouco dinheiro e isso em um bar significa bebida forte, na verdade qualquer bebida para mim seria forte. Em um grupo que na época nos intitulávamos de punk íamos diariamente ao bar do seu Osvaldo. Por vezes, a grande maioria, esperávamos abrir as 8:30 da manhã onde tirávamos para fora do bar a mesa pensa de sinuca e bebíamos a cinqüenta centavos doses de rabo-de-galo (vermute + cachaça) e quando tínhamos mais dinheiro, bebíamos cerveja (Glacial). Se comparássemos a cerveja da minha urina, não teria diferença alguma, pelo menos na aparência.
Enquanto bebíamos o dinheiro das passagens dos ônibus, olhávamos atentos para a rua, pois a policia (patrulha escolar) poderia passar e seriamos todos “presos” e nossos pais saberiam. O que na época era o fim. Algumas vezes quando ficávamos até o termino da aula, Seu Osvaldo nos dava comida, que por sinal era ótima apesar da aparência. Certo dia, recebemos a noticia do próprio Seu Osvaldo que iria tirar férias e, portanto não haveria mais o nosso retiro por um tempo. Então bebíamos na própria escola, em um cantil repleto de cachaça que fazia carros andarem, esse era o nosso lanche para o recreio. Sempre escondido dos seguranças, bebíamos nos banheiros, e voltávamos. Mas como vampiros surgem de todos os lados atrás de sangue, mais pessoas provaram do nosso lanche, entretanto, alguns apenas queriam se aparecer (o que não é anormal nessa idade) e passaram mal por não ter resistência ao combustível, onde alguns levaram suas devidas punições. Felizmente para a época éramos o que chamava de um grupo que causava medo nos outros alunos e não era de duvidar, figuras estranhas estavam no nosso grupo.
Quando Seu Osvaldo retornou de sua viagem do Mato Grosso do Sul fomos visitá-lo e retornamos ao nosso esconderijo. Houve então um congresso em Porto Alegre para o grêmio estudantil (por sinal, todos nos fazíamos parte), entretanto, foram apenas dois do nosso grupo. E era tarde de um dia qualquer, quando meu telefone toca e recebo a noticia que um do nosso grupo estava bêbado e ao entrar no mar o vento o levou. Isso foi como dizer que um irmão morreu, uma pessoa do seu sangue se foi e essa foi à reação de todos. No outro dia nos encontramos no Seu Osvaldo e o vazio era gigantesco que nos deixou incapaz de retornar lá novamente. Depois soube que o bar fechou, pois Seu Osvaldo havia adoecido e havia ido para Mato Grosso do Sul.

Dedé

Agora na faculdade e depois de nunca ter parado em um outro bar qualquer, sozinho na maioria das vezes, ia ao bar mais próximo da faculdade (esse era o único motivo que me levava ao bar do Dedé). Na verdade para mim não era um bar e sim um lugar estúpido de musica gritante alta e de freqüentadores estúpidos. Por vezes, pareciam zumbis, não via diferença alguma nos olhares de cada um, cultivavam suas aparências e não agüentavam tomar uma cerveja sequer “corretamente”, mas como eu preciso saciar o monstro que esta dentro de mim e pelo primeiro ano convivi com esse tipo repulsivo de pessoas e por vezes quando algumas gurias me chamavam ia ao bar do Seu Julio.


Julio

Ainda na faculdade agora em outro bar, um pouco mais distante, sentia-me novamente em um Bar. Era como estivesse novamente no Seu Osvaldo. Sempre operários, caminhoneiros, empregados qualquer, todos com uma historia para contar. Pessoas de verdade. Neste eu voltei a freqüentar diariamente, bebia minha cerveja antes da aula (única maneira de suportar as aulas) e às vezes jogava sinuca com Seu Julio. E sem vergonha de dizer, de todas as partidas que jogamos, consegui ganhar apenas uma. O que o torna um filho da puta viciado e me tornava um amador, mas no truco tinha orgulho porque era sempre empatado. As aulas começavam as 7 da noite e por vezes chegava as 5 e meia no bar, onde sempre encontrava Seu Julio e Seu Eduardo, um senhor que sempre levava seu neto, nem devo dizer o que me lembrava. Sempre brincava com o guri que tinha seus 3 anos enquanto escutava as conversas milionárias do seu avô, era do tipo que quando bebia ficava rico. O que fazia eu e Seu Julio apenas dar risada do seu papo.
Após ter mandado todos da minha sala e o curso para a puta que pariu por suas hipocrisias, idiotices e crenças estúpidas. Nunca mais voltei ao bar do Seu Osvaldo, pois moro distante do seu bar, mas qualquer dia ainda voltarei para beber algumas cervejas e relembrar historias que os pouparei aqui.

Neto

Agora apenas no trabalho, atuando, fazendo o que sei fazer de pior, mas que é o meu melhor. Encontro um bar mais pacato, onde a cerveja é sempre na mesma temperatura, onde o copo não é mais um como qualquer e sujo, e sim uma taça pequena e resfriada, não há mais musica alta e tão pouco conversa alta. Os freqüentadores agora não são mais operários, empregados qualquer e sim deputados, vereadores, empresários e delegados. O lugar tem um clima respeitado como o Seu Neto em sua conversa mansa, onde conta sua vida na Bahia e sobre seus filhos. Não há mais aquela conversa engraçada de caminhoneiros por estradas diversas e muito menos o bêbado milionário, agora, uns falam de política, outros de empresas diversas e delegados falando de prisioneiros. Pode ser que até cheguei conhecer alguns de seus prisioneiros, alguns empregados dos empresários e eleitores desses políticos hipócritas.
Em uma noite silenciosa enquanto bebia minha cerveja e escrevia sobre o que tu estas lendo agora, parei para pensar na minha vida apenas pelos bares e sem muito esforço pude perceber que a alegria da vida não é o luxo que tenho e que sempre sonhei ter. E sim, a simplicidade que sempre convivi. Quantas vezes tu já pensaste, sonhaste em ter algo que tu colocava em um patamar elevado e assim que tu conseguiste viu que não era realmente aquilo que tu sonhava ou aquela garota que tu almejava namorar, sonhava com ela, imaginava palavras a serem ditas e quando finalmente a conseguiu viu que ela não era tudo aquilo que tu sempre viste no seu sonho e aquilo te despedaçou. A vida felizmente não é perfeita como sonhamos todos os dias, pois se fosse perfeita que graça teria se sua mulher, seu marido fosse perfeito, se todas as musicas fossem perfeitas, se... se... Fiquei entediado só de imaginar tudo perfeito... Tu, essa é a vida!...



CB


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Autor
Carlos Bazesko
 
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