Gosto,gosto
quando no
Chungking Express,
Before Sunset,
me tocas nessa
calidez contida
de 2046
In the Mood
for Love,
Gosto,gosto
de imaginar-te
enternecedora,
numa Strada
a preto e branco,
a tocar corneta,
em roupa de Gelsomina
palhaço triste,correndo
atrás da música
de Nino Rota,
Gosto de observar-te
Gina Lollobrigida ou
aquela loura de que
quase nunca me lembro
do nome,à conversa
irónico-sentimental-amorosa
com o Mastroianni,
na Fonte di Trevi.
Gosto quando em Casablanca,
num Eternal Sunshine
of The Spotless Mind
arriscamos roubamos
uma bicicleta do
realismo italiano e
voamos numa
Science of Sleep,
para longe de
Feios,Porcos e Maus,
Gosto de tirar-te fotografias -em que sou
o fotógrafo londrino e tu a musa
misteriosa conhecida num momento
voyeurístico num jardim da cidade-,
e descobrir ângulos ausentes
nas imagens,quando depois
de reveladas,gosto
também num filme americano,tu Sally
eu Harry,a dizer-te
que és empiricamente bonita.
ou Annie Hall e Woodie,
a jogarmos ténis
em Manhattan,gosto
sempre de ti Vénus
com braços,ambos,
Maya desnuda o corpo
de violino curvilíneo,gosto,
gosto de ti,Kiki de Montparnasse,
até quando sorris dissimulando
Les Larmes que guardas só para ti.
Gosto,mas a vida não
dá um filme de respeito
e o nosso,infelizmente
teve um fim ignorado,
no arquivo histórico
de uma Cinemateca
encerrada para obras.