Plumas de cabaret,
Adornos carregados de lantejoulas,
Vestidos de alta-costura em corpos esguios…
Tudo me faz lembrar Invernos frios,
Vestir o pijama, casaco e ceroulas
Enquanto adormeço a ler Garrett.
Sons de letras que brotam do nada
Que caem no papel como chuva miúda,
Que formam palavras sem significado,
O adjectivo que dá ares de predicado,
Cantatas de violino em nota aguda
Lidas em pauta preta e encarnada.
Meretrizes que pisam grandes palcos,
Que cantam árias de Mozart e Chopin
Vestidas a rigor… autênticas rameiras.
Música de notas afinadas e traiçoeiras
Que me despertam bem cedo de manhã,
Sentir que nasce o dia… voos altos.
Salto para a morte a cada passo que dou
Deambulando louco em ruelas estreitas
Cheirando dos esgotos o ópio que me embala
Junto com tantos outros que caem na vala,
Na vida de promessas feitas,
Sentir que já nem sei quem sou.
Ressacas monumentais que me inebriam,
Que me levam para fora do meu mundo,
Que me sugam o sangue e a vaidade.
Vivo no campo entre ruínas de saudade,
Respiro o pólen das flores… doce e profundo,
Águas que despem o rio e não mudam.
Choro aventuras de tempos idos
Em que tudo eram sonhos de ilusão,
Em que o real era imaginário.
Faço da minha vida um curto sumário,
A cada dia suplico ao azar o meu perdão
Alcançado em actos loucos e irreflectidos.
Danço com a caneta no papel
Como se esgrimisse o futuro com o passado,
Receio de não ser quem sou, mas o que fui!
Loucura é o termo que melhor me flúi,
Que me desperta sem ficar desesperado,
Que me deixa a boca com sabor a mel.
Faço jogos estúpidos para me distrair,
Sinto-me criança sem saber o que isso é,
Olho-me nos olhos fundos e insensíveis,
Memórias de feitos desprezíveis.
Sou Homem sem lei, descrente e sem fé
Que sente a vida triste no mundo a ruir.
A Poesia é o Bálsamo Harmonioso da Alma