Mistake.
Olhei para seu rosto iluminado pela suave luz prateada da lua, sem deixar de me perguntar mais uma vez como alguém podia ser tão singular.
Ela possuía a pele suave e pálida, e feições delineadas com delicadeza, com riqueza de detalhes como se um refinado escultor as tivesse feito a mão. Suas sobrancelhas eram finas e escuras e encimavam olhos escuros e profundos, expressivos e espantosos. O rosto era emoldurado por longos cachos castanhos que contrastavam lindamente com os lábios rosados e pequenos, e o resultado... Bem, o resultado era a criatura mais sedutora que já encontrei em minhas andanças por todos os mundos.
A luz da lua lhe dava um ar misterioso que não lhe era característico. Ela esperava minha resposta. A resposta que seria derradeira. Definitiva.
Não tinha certeza se poderia responder naquele momento.
Ali estava a mulher que mais amei em todo este tempo. Antes e depois de tudo seria sempre ela. Ninguém mais que ela. Poderia haver outras, mas ninguém jamais seria alçada ao lugar sobre o qual ela sempre reinaria.
No entanto, eu não podia ir.
Não ainda.
Eles ainda precisam de mim. Mais do que ela.
- Não. Não meu amor, eu não posso. Não ainda. – ali estavam, as palavras que acabaram com tudo. E eu as disse. Dizer não foi tão difícil. Difícil é viver depois de ter dito isso.
Ela baixou lentamente seu rosto, e acenou afirmativamente com a cabeça. Acho que, no fundo, ela sempre soube. Sempre, sempre. Eu acabara de feri-la mortalmente e ela somente acenava com a cabeça como se já soubesse que eu faria isso.
Quando ergueu os olhos, eles brilhavam prateados, com o resultado da constatação da minha decisão. Era essa a minha palavra final, para a pessoa mais maravilhosa que já conheci. Mas jamais poderia fazê-la feliz se traísse minha honra. Eis a extensão do meu egoísmo e da minha vaidade. E tudo maquiado em heroísmo.
De repente dos olhos dela, desceram duas fileiras, prateadas pela luz da lua que entrava pela janela. Ergui minha mão para secar seus olhos e uma única lágrima dela caiu sobre as costas de minha mão direita.
Era uma única gota prateada.
Como orvalho.
Como prata.
Como a pura matéria dos sonhos, liquefeita.
Uma lágrima de anjo.
Eu me alimento de viver, e estou sempre com fome.