Desde pequenos,eu e meu mano Beto(que lá do céu deve lembrar)nos acostumamos a ouvir papai contando aqueles causos coloridos de seu sertão paraibano,havia um que me divertia em especial.Era assim...
Por aquelas bandas, era preciso se precaver contra as aves grandes que prejudicavam a plantação dos roçados,pois então,seu Mané Pequeno fez o espantalho mais bonito que podia,caprichou no traje,o tronco era de madeira boa e os detalhes ficaram tão bons que ele lhe dera o nome de Marcolino,só faltava falar o boneco vestido de gente...
Assim foi por muito tempo,até que Deus mandou toda a chuva que os homens pediram aos santos e a água lambeu tudo e varou a cerca levando o Marcolino do Arroz pelo rio afora até fazer curva e parar na fazendo de seu Tico Lunda,na região de baixo,onde o pobre ficou grudado em pé num pau forte de cerca.
Certa noite,passado alguns dias,quando tudo já havia secado e a vida normalizava,apareceu por lá nas terras do fazendeiro Tico,um caçador afoito atrás de uma onça braba.Cartucheira em punho,o homem pulou a cerca,quando ouviu a voz:
-Larga essa vida,Bastião!Senão tu vai é morrer!
O homem deu um pinote e caiu de cócoras rente a imagem impassível em pé na cerca,o olhar parecia um tição.
-Nhô sim,vixê,o sinhô é um santo,é?
Ele jura que o santo repetiu a frase mais duas vezes com voz de trovão,foi então que abaixou o olhar,tirou o chapéu contrito e ficou num colóquio de duas horas com o divino.No fim,fez o juramento de deixar aquela vida aventureira quem sabe até virasse um beato...O que se sabe é que ele contou o ocorrido para a cidade todinha e estava feliz com a conversão.
Já de manhã muitos iam e vinham como em romaria para ficar íntimo do santinho que sem parcimônia espalhava suas graças.Seu Tico não teve outro jeito senão construir o lugar dos romeiros deixarem seus agradecimentos,era perna de cera,cabeça,até bicicleta...A cidade acolhia bem aquele que passou a ser o "santo do rio".
A mulher de seu Mané Pequeno combinara com as comadres de ir até a tal fazenda conseguir seu milagre,já que o santinho dava plantão,acompanhou-a seu filho mais novo,rapaz esperto como o que...Lá chegando,as mulheres ajoelhadas permaneciam por muito tempo,rezando e chorando,chorando e rezando...até que algo chamou a atenção do rapazote,ele se aproximou do santo,tocou sua mão de madeira e deu o grito:
-Vixê,este aqui é Marcolino,ele tá sem o dedo!É Marcolino!É Marcolino!
A mãe ainda chorosa correu até o filho que lhe relatou a descoberta mas antes que terminasse recebeu um croque tão forte que saiu fogo do olho.
Nem é preciso dizer do burburinho que aquilo causou,mandaram chamar seu Mané que apeou já com o cinto nas mãos para dar uma pisa no rapazinho que implorava ao pai:
-Meu pai,este danado é Marcolino do Arroz,veja o dedo dele que o sinhô cortou,veja...
O velho foi conferir e era mesmo um milagre grande,achara o Marcolino,tanto tempo perdido!Retornaram todos para os seus afazeres felizes e atônitos.E a multidão se dispersou feliz e cantante.
E quanto aos milagres?
Bem,eles sempre existiram no sertão e nos corações dos simples,não é não?
Nina Araújo
O poeta Walmar Belarmino assim diz:
“CORAÇÃO DE POETA É TÃO SENSÍVEL,
TÃO SENSÍVEL DE UM JEITO IMENSURÁVEL
QUE CONSEGUE SENTIR O INAUDÍVEL
E BEIJAR COM LEVEZA O INTOCÁVEL
VER UM DEUS EM CADA MISERÁVEL
E CHORAR PELA DOR DE UM OPRIMIDO
MESMO ...