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Sexta feira 12

 
Sexta feira 12
 
Sexta-feira 12, quase sábado 13. A lua?! Tenho as cortinas fechadas. Sinto a batida. Hoje pensei muito no natal. Prendas, prendas e mais prendas. Vou vos encher de prendas! Muita imaginação e ainda mais vontade, é tudo o que tenho e nada mais preciso. Pensei em dar-te um grão de areia por cada segundo de felicidade que me dás, mas era areia de mais para a minha camioneta. Pensei em dar-te uma flor que me lembrasse de ti, mas não encontrei nenhuma que cheirasse tão bem. Pensei em te oferecer roupa, mas para quê tapar o que é tão belo. Uns óculos de sol?! Não. Quero te ver os olhos. Já sei! Vou-te oferecer... NADA!!! Ahhh, mas que prenda tão bela, vais ficar perfeita!!! Estou a entrar em delírio, preciso de auxílio. Rápido traz-me um isqueiro e um balde de água fria. A brincar, a brincar! Estava a brincar... uh está frio. Alguém abriu a janela? Lá está ela, a luz que pisca o olho, a piscar! Fecha, fecha as cortinas. Deixa-me respirar. Creio que começo a demonstrar os primeiros sinais de loucura. Não ligues, hoje estou muito imaginativo. Parece que o relógio parou. Eu não quero que ele pare. Relógio, relógio responde-me, acorda, eu não quero que tu pares. Acorda. Acorda relógio, não pares. Silêncio. Shhhh. Ouves? Shhhh... Não ouves?!... Olha... Tic, tac, tic, tac… É o bater do meu coração! Grande susto! Fiquei a suar, estou com febre, é isso... Estou com febre, estou a delirar. Não, não pode ser. Esqueceste-te?! Como te pudeste esquecer?! Sou eu, sou eu... aqui... dá-me a mão, sou eu... não vês?! Aqui... Isso, isso, já passou, foi só um sonho, já passou... Consegues sentir... o silêncio? O silêncio a escorrer nas paredes? E a luz... no escuro... incomoda-te? O suor congela-me... Vou gritar, vou gritar, vou... vou... AAAAAGGH! Gritei, mas a dor... Não consigo abafar a dor. Não, estou louco, não, estou louco, um dó li tá quem está livre, livre está. Tu... Sim tu... Sai daqui.. Sai daqui já disse. Sai .Não voltes... Espera. Aonde vais? Não vás sem mim. Leva-me contigo. Quero saber aonde fica o mar, o arco-íris, a terra das flores... tudo. Conta-me tudo. Liberta-me. Tira-me o nó do pescoço, descalça-me o sapato, desespera-me. Vai... o que esperas?! Não esperes, espera.... Sou eu... aqui... shhhh... Não ouves?! Ainda bem! Já somos dois, dois loucos! Na mesma casa, no mesmo botão, afrontados com um espelho. Afogados na história, com um pé atado à barca da memória. Dormindo, sonhando, cheirando, comendo latas de atum. Bom petisco, nada de marisco. Nem só de caviar vive um homem. A mulher? Vive de o quê?! Apanha bonés, apanha bolas, apanha porrada? Não pesca nada? Vive à pesca? De atum?! Vira o disco e toca o mesmo, no mesmo estado, riscado. Pinta-se de azul, pinta-se de ouro, mas ouro sobre azul nem vê-lo. Branco no preto, preto no branco, viro o casaco e mudo de flanco? Nem pensar... A febre não me deixa pensar... como tem que ser. Como vai ser. Como vai ser? Põe a mão na tua testa. Fria? Gelada? Mesmo mesmo a derreter? Já somos dois, dois frouxos. Dois laços frouxos. Pegas num lado, que eu pego no outro? Não, já disse que não. Ou será que não disse? Vamos com jeitinho, muito jeitinho, sem tremer nem vacilar e sem bater os dentes, desenlaçar os novelos. Isso, azul para um lado, ouro para o outro. Bonito! Toma a chave. Guarda-a... Num sítio que não a percas nem a esqueças. É impressão minha ou está calor aqui. Não admira. Estou tão perto do inferno. Se dou mais um passo entro em combustão espontânea. Sinto as tuas mãos nas minhas costas. As mãos de fada do carrasco. Já me vejo no espeto a virar churrasco. "Bem ou mal passado?" Que raio de pergunta! "O quê? vou ser atingido por um raio?!" "Não meu amigo, os raios estão no céu. Estás aqui é para ser comido!" Vou dar um passo atrás, com jeito para não te derrubar. Já sei, agora é que já sei o que te vou oferecer. Chocolates para te encher a barriga. Eh! Eh! Mnham, mnham, Hummm... esquece. É a febre, esta maldita febre. Me persegue como uma lebre. Vou torcer-lhe o pescoço, atá-la e pô-la ao fumeiro, e vou abrir a janela para não se notar o cheiro. Até já! Voltei, fresco que nem um girassol. É só dar um jeito ao projector. Pronto? Luzes, acção!
 
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TrabisDeMentia
 
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Enviado por Tópico
Paloma Stella
Publicado: 10/03/2007 00:50  Atualizado: 10/03/2007 00:50
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Usuário desde: 23/07/2006
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 Re: Sexta feira 12
Trabis,
Acho que esse é o texto mais confuso e claro que ja li.
Um pedaço de carta, com sentimentos e vontades. Talvez nem isso, apenas fases. Idéias e virtudes que possam ter lhe ocorrido. De tal maneira assim, que gostei e me senti bem ao ler. Talvez! Entendi tudo o quis dizer em casa palavra, frase. Tudo.
Gostei Muito.

Beijinhos


Enviado por Tópico
Tália
Publicado: 11/03/2007 17:43  Atualizado: 11/03/2007 17:43
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Usuário desde: 18/09/2006
Localidade: Lisboa
Mensagens: 2489
 Re: Sexta feira 12
Hum...
O Trabis passou-se... (brincar)
Podias experimentar oferecer só um beijo...
Foi confuso mas divertido...
Tália

Enviado por Tópico
flavio silver
Publicado: 26/02/2008 23:11  Atualizado: 26/02/2008 23:11
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Usuário desde: 24/09/2007
Localidade: barcelos
Mensagens: 1001
 Re: Sexta feira 12
por onde é que eu vou começar...
adoro este tipo de leitura em que nos Põe a andar aos soluços, ou seja, repete frases para realçar determinados estados de ansiedade até chegar á loucura.
o ritmo está espectacular, o enredo cativa muito.
tem muitos pormenores interessantes ms não vou destacar senão, a lista era extensa.

o final, bem, o final, não imaginava nada que assim fosse.
um abraço extenso.
força aí.
fantástico
e eu não sou hipócrita.