Faço propaganda à minha morte em letra maiúscula de propósito.
Roubaram-me.
Roubaram-me o amor verdadeiro com palavras mansas e dei-me conta que a verdade não agita um cravo no meio da revolução. quero cimentar as feridas e construir um muro de berlim com a dor. Se for preciso ergo o meu cabelo, calço uns chinelos, ponho uns óculos amarelos e canto a paz e o amor. quanto ao resto acabou, julguei que era bom ter um irmão mas a pátria roubou-mo.
Qu'é da pátria afinal? está na etiqueta dos gestos, no perfume caro que compraste, nas sapatlhas converse e nada, nada me sabe agora ao velho e pisado vinho do porto. Até isso roubaram estes filhos da mãe.
Eu gosto de mim como sou, mãe, filha, avó (avó ainda não mas hei-de ser) e gosto-me como leitora, compradora, consumista, anarquista, enferma, doente. Gosto-me e pronto. Sei que enlouqueci mas o que é um escritor senão a sua loucura? Porque vós pobres sãos ainda não sabeis escrever a alma de pessoa ou o corpo de espanca, porque vóis manjais o orgulho, a fama e vestis a vossa pele com a hipocrisia de um derrotado patriotismo.
Eu calo-me porque a revolução de abril à muito que ma roubaram. Bateis-me e eu calo-me. matais-me e eu calo-me mas às minhas palavras não lhes chegais com a mão, não as matais porque já morreram.
FAÇO PROPAGANDA À MINHA MORTE EM LETRA MAIÚSCULA PROPOSITADAMENTE, COM A MESMA RAPIDEZ COM QUE ME DERAM VIDA HOJE ME MATAM. SOU UM PERSONAGEM, UM HETERÓNIMO E ISSO BASTA-ME PARA MORRER FELIZ.
adeus.