Perdoa!
Sei que não consegues ficar
Indiferente à minha indiferença
Talvez porque saibas
Que no fundo não é displicência o que sinto
Porque me lembro de ti
Porque quero que sejas feliz
Porque te pressinto o sofrimento
Fico dispersa é certo
Distraída com a vida galopante que me atordoa
Mas penso em ti e quero-te bem
E é tão fácil carregar numa tecla do telemóvel
Ouvir a tua voz e escutares a minha apaziguando-te
Como se me tranquilizasse a mim também
Como se te aliviasse os medos com os meus temores!
Mania da telepatia
Como se os amigos me pudessem captar
O que me vai no pensamento
E depois admiro-me quando gritas o meu nome
Num pedido de socorro
Quando me dizes que estou fria, indiferente
Que não te ouço nem te digo palavras de refrigério
Para alívio dos teus desgostos
Escuto-te, leio-te
Tens razão!
Ando longe, estou longe
Bloqueio quando devia acarinhar-te
Fico hirta quando devia abraçar-te!
Silencio quando deverias ouvir a minha voz!
Mas talvez esteja arredada de mim
Quero perder-me de forma egoísta
Neste grito de liberdade que sufoquei em décadas
Mas juro-te que estarei sempre aqui para te auscultar
Também te tenho no coração em afecto puro
E não são os desgostos da vida
Que me impedem de te pensar
Antevejo-te como as flores
Quando não és regada feneces de tristeza
Posso também ser simples flor,
Mas quando se esquecem de me regar
Simplesmente transformo-me em cacto solitário
Que aprende na evolução das espécies
A adaptar-se ao ambiente árido
Mas mesmo a mais bela flor
Pode ser amiga de um disforme cacto do deserto!
É isso que sou!
Um cacto do deserto que teima em manter os espinhos
Para poder sobreviver também ao desapego
Dos seres humanos que um dia ousou amar!