Pela janela entreaberta entra a noite, como brisa fresca que invade o quarto. O corpo deitado sobre a cama, abraça-a, recuperando a alma primordial. Essência que viaja pelo tempo, trespassando barreiras, vidas e dimensões procurando a outra metade de si mesma. Sente-se o corpo levitar, como se pairasse no ar. Entre os dedos sente-se a vida fervilhar, como água efervescente, num momento, desliza o corpo para lá das estrelas numa viagem alucinante em direcção à luz.
Abres os olhos ofuscados pela luminância do lugar, aqui tudo é brilhante, como branco imaculado. Estarás no céu? Terás morrido? São perguntas que pairam no teu pensamento. Não te sentes como um ente físico, o teu corpo é etéreo, um aglomerado de energias que fluem em diversas direcções. Escutas a suave música que se dissipa na atmosfera surrealista deste lugar mágico onde tudo parece ser apenas um sonho.
Encontraste naquela brisa nocturna, o caminho para o centro do teu Universo, um lugar onde a alma descobre o equilíbrio metafísico que sempre procuraste, onde tudo é exactamente como os pedaços de sonhos maravilhosos que por vezes sonhavas. Lembranças, retalhos deste lugar que há muito não visitavas. Agora que estás aqui, entendes, mesmo sem teres de perguntar, todos os porquês, definições que outrora te pareceram dúbias. Tudo é claro e cristalino aos teus olhos.
Encontraste-te, muito para lá dos limites do teu corpo, muito longe do limiar do teu horizonte físico. Podes aqui voltar, sempre que fores capaz de deixar entrar a magia da noite, como uma brisa fresca, pela janela do teu quarto, transportando com ela a outra metade de ti, mapa que te indica por onde seguir, água purificadora que te desprende as amarras que te seguram à realidade, libertando-te para a viagem suprema ao teu mundo.
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