Crónicas : 

Mãe!

 
(Escrevi quando o Guilherme tinha 3 meses, agora ele tem um ano. Encontrei o texto por acaso, já nem me lembrava dele)

Às vezes olho para ele e penso como seria a minha vida se ele não tivesse nascido, se eu nem tivesse pensado em ter filhos. Às vezes tenho saudades de ter tempo para namorar, para dormir, querer sair e pegar só na minha mala e na chave do carro e ir apenas. Às vezes lembro-me quando podia sair à noite para um bar e não tinha a preocupação de onde e com quem ele fica. Claro, depois sinto remorsos de pensar nisto, como se estivesse a negar o meu filho, como se não fosse natural ou normal. Sinto-me mal por ser humana, com hábitos de saudosismo.
Descobri muito rapidamente que é duro ser mãe. Não me venham com tretas porque (e por mais que eu queira) ser mãe não é o mesmo que ser pai, a não ser que o pai seja o único progenitor vivo!
Descobri coisas absurdas, idiotas e ainda mais absurdas como sentir que ele cresce e por não guardar tudo em filme ou foto estou a perder vida dele inteira. Ou que se não tenho paciência um dia estou a ser uma péssima mãe, ou que às vezes apetece-me dar-lhe uns açoites e depois sinto-me logo uma bruxa má porque ele é tão pequenino que nem tem traseiro para uma palmada. E porque estou a ralhar e ele não percebe nada e ri-se para mim.
Às vezes sinto-me tão desesperada e vejo a minha vida passar enquanto conto biberões e fraldas e parece que perco tudo o que está lá fora... e as amigas que vão com os namorados ao cinema e à discoteca. A vida anda pulando de consulta em consulta do pediatra, entre as vacinas e um mês (e será que aumentou o suficiente?) e dois meses (dói-lhe a barriga e chora tanto! já brinca com
as mãos e dá para ver a cor dos olhos?) e três meses (e as borbulhas, e o leite a que é alérgico) e mais ainda não sei porque ele ainda não chegou lá.
Dou por mim a velar-lhe o sono porque tenho medo do síndroma de morte súbita e que eu o perca assim, por entre sonos e sonhos, ponho a mão em frente ao nariz para ver se respira (Deus, tornei-me numa paranóica) e só respiro quando vejo que respira também.
Tenho medo que sorria sem eu estar a olhar, anseio por estar algum tempo longe mas quando estou não páro de pensar se está bem ou se sente a minha falta. Não posso ver filmes com crianças, então se sofrem, por favor, desliguem o televisor porque eu vou chorar. Será que todas as mães são assim parvinhas e obcecadas?
Confesso-me...tenho ciúmes de quem quer que seja que se aproxime dele e se ele sorri então...aquele sorriso é meu e só meu.
Luto contra mim mesma todos os dias porque ele precisa de crescer e conhecer para além do meu colo. E sinto-me tão cansada... Bebé dorme, vá lá, por favor... a mamã precisa que durmas um bocadinho só...não, não chores, oh bebé, por favor, a mamã precisa de comer, tomar banho, lavar a loiça, passar a ferro, não sejas maroto, ai ai ai estou a ficar zangada...Bebé não te rias que é a sério, vá dorme...
Amor, podíamos aproveitar que está a dormir...podíamos tentar nos lembrar de como é que o fizémos, para não perder a prática...deixa só esterilizar os biberões...estou pronta...ora bolas, está a chorar...
Mas enquanto ele finalmente dorme e eu escrevo,
lembro-me que hoje deu uma linda gargalhada, que fica tão bonito de calças de ganga e sapatilhas, que o sorriso dele dava para ser a estrela da árvore de natal de tão brilhante ou que é a única pessoa no mundo que gosta de me ouvir cantar. Eu sei que não estou só nestes sentimentos, que qualquer Mãe sente isto tudo e isso não me faz sentir melhor...pelo contrário, não me quero rever nas palavras de outras mães e irrita-me quando conto algo e me dizem “ah, o meu filho também fez assim ou assado”, quero que me digam “uau, o teu filho é um fenómeno, não há nenhum igual, e tu és a MÃE”.
Sou parvinha não sou?!



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Maroska
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Enviado por Tópico
Junior A.
Publicado: 09/03/2007 15:29  Atualizado: 09/03/2007 15:30
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Mensagens: 890
 Re: Mãe!
Quando cá me deres o saber,
O que "parvinha" se trata. hehe
Dou-te a resposta sem temer.

Por enquanto fico apenas ao poema:

"O mais puro amor" agora me fez ver
Quando as palavras fogem,
Quando os sentidos enganam
Quando o corpo esmorece.
Eis aí do poema o motivador:
O mais puro e belo amor.

Mui bueno Poetisa,
amor se faz assim...