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Razão de existência…(A pior dor do mundo)

 
Razão de existência…(A pior dor do mundo)
 
Sou fantasma!
Fantasma de mim próprio
e de um mundo…
próprio de mim…
Sou daqueles fantasmas
que gosta de voar…
Voar até ao nada
e até ao infinito
Viajo pelo mundo inteiro
Desde o mais lindo jardim
à mais humilde e solitária flor…
Desde a mais humilde casa
À mais luxuosa de todas…
Viajo para onde sinto amor
E por onde me magoa a dor…
Seja por onde for…
Eu posso lá estar
Mas desta vez
voei até um sitio onde nunca pensei voar
Ao mais bonito jardim
da mais bela casa que alguma vez encontrei
Tudo era belo!...
Haveria nesta amor de certeza!
Mas tudo o que lá encontrei
foi lágrimas e tristeza…
Lágrimas de um belo sentimento
de uma infantil saudade prematura…
Encolhida a um canto
de um quarto rosa sombrio
Uma linda mulher…
Na porta li…
um nome jamais esquecido
Em frente da porta,
lá bem no cimo
um relógio de cuco
cantando tristeza
O seu pêndulo
batendo como um frio coração…
Ao lado palhaços
sorrindo sem expressão…
A lua vai iluminado todo este quarto
Uma pequena cama ao fundo
de lençóis ainda amarrotados…
Lençóis cor de rosa…
Sinto o meu coração
cair aos bocados em cada palavra que escrevo…
Esta tristeza
faz-me voar
para um vazio ainda mais triste…
Voar;
para dentro da bela mulher
Sinto a sua respiração;
respiro com ela…
Sinto as suas emoções;
choro com ela…
Sinto os seus pensamentos;
chamo a morte dela…
Ao fundo o riso de uma criança…
Levanta-mos a cabeça
para ver a sua ilusão…
O choro torna-se mais intenso
mais surrealista!...
Olho para as molduras
ao lado da cama…
ornadas…de vazio…
As memórias vêm à cabeça
como retratos de luz…
Os passeios
Os dias na praia
O sol do fim de tarde…
Os sorrisos…
“ ─ Amo-te mamã…”
A lágrimas choram
o sangue da madrugada…
Fecho e abro os olhos carregados de revolta…
Fecho outra vez…
Quando os abro,
estou novamente à porta
diante da chorosa mulher
Aperto os dedos sentindo raiva para com o mundo
como se continuasse na mulher
Sinto um cabo de madeira
e uma lâmina fria na minha mão…
Aproximo-me da mulher…
Ela olha p’ra mim sorrindo
como se me vendo…
e como se esperando por mim…
Fecho os olhos uma ultima vez…
E apesar de ser apenas um fantasma…
Sinto sangue beijar-me a face
Como em jeito…
…de agradecimento…
 
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Blackbird
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Enviado por Tópico
Ledalge
Publicado: 28/07/2008 21:17  Atualizado: 28/07/2008 21:17
Colaborador
Usuário desde: 24/07/2007
Localidade: BRASIL
Mensagens: 6868
 Re: Razão de existência…(A pior dor do mundo)
VOU TOMAR UM COPÁZIO DÁGUA AGORA...MOÇO DO CÉU, QUE FANTASMAGÓRICA POESIA! COMO DIZ MEU FILHO: FOI O BICHO! PARABÉNS

Enviado por Tópico
Fhatima
Publicado: 28/07/2008 21:52  Atualizado: 28/07/2008 21:52
Membro de honra
Usuário desde: 12/02/2008
Localidade: Joinville - SC
Mensagens: 3336
 Re: Razão de existência…(A pior dor do mundo)
Olá Blackbird!

Teu texto está muito bem escrito, é uma viajem para mundos que até parecem reais, e como num sonho você é fantasma tudo pode realizar-se, parabéns pela poesia!

Parabéns poeta!
Fhatima

Enviado por Tópico
MariaSousa
Publicado: 28/07/2008 21:59  Atualizado: 28/07/2008 21:59
Membro de honra
Usuário desde: 03/03/2007
Localidade: Lisboa
Mensagens: 4047
 Re: Razão de existência…(A pior dor do mundo)
Poemas tristes e sombrias mas onde se sente uma beleza enraizada,

Bjs

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 28/07/2008 23:32  Atualizado: 28/07/2008 23:32
 Re: Razão de existência…(A pior dor do mundo)
Antes que mais o poema tem alma. Percebe-se que é sentido, que vem do fundo, e psicologicamente é fidedigno. Muitos dos poemas que aqui são postados não passam de palavras arrumadas de alguma forma, e não têm outro valor que esse mesmo. Poderão soar bem, mas não dizem nada. Este diz tudo sobre o transtorno emocional que um filho sofre com a perda de sua mãe. E di-lo de uma forma convincente. Servindo-se de múltiplas imagens, obedecendo, inevitavelmente, ao estilo peculiar do autor. Parece-me demasiado extenso, repetitivo. Um poema, entre outras coisa, é sempre uma música de palvras, com intervalos, tempo para respirar, para gritar e par falar baixinho. Por isso é sempre boa prática declamar aquilo que escrevemos, a nosso jeito e logo vemos se nos agrada ou não. Depois o poema deverá ser fluído, isto, é correr bem na leitura, ainda que com fluxos e refluxos. Também um poema poderá ter vários temas mas todos subordinados a um assunto cemtral, sendo que cada corpo, normalmente adstrito a um tema, deverá ser bem delimitado.Claro que a nusicalidade das palavras,o jogo da rima, a originalidade das ideias e imagens são fundamentais. Este poema, se convenientemente decomposto converterse-á, estou em crer nun poema superior. É o que me ocorre dizer.Um abraço

Enviado por Tópico
De Moura
Publicado: 29/07/2008 00:03  Atualizado: 29/07/2008 00:03
Colaborador
Usuário desde: 10/12/2007
Localidade: USA / NJ
Mensagens: 751
 Re: Razão de existência…(A pior dor do mundo) - To Blackbird
Olá,
Que grito!!! Quanta dor aí no teu peito...que bem te sai o sofrimento que tentas e muito bem defazer em palavras...

Quando vi teu nome me chamou á atenção...DOR...e estava certa... sinto muito a tua dor...espero que breve possas voar num mundo despoluído sem essa dor tão sufocante...
Um beijo, adorei apesar de sentir tanta dor nele...

A.

Enviado por Tópico
Carolina
Publicado: 30/07/2008 22:12  Atualizado: 30/07/2008 22:12
Membro de honra
Usuário desde: 04/07/2007
Localidade: Porto
Mensagens: 3422
 Re: Razão de existência…(A pior dor do mundo)
Gostei da história em poesia, está repleta de emoções fortes, contada ao pormenor.
Espero que esse fantasma te faça a escrever mais histórias interessantes como esta.
Parabéns
Beijos

Enviado por Tópico
Pedra Filosofal
Publicado: 11/08/2008 20:29  Atualizado: 11/08/2008 20:29
Colaborador
Usuário desde: 17/09/2007
Localidade: Barreiro
Mensagens: 1273
 Re: Razão de existência…(A pior dor do mundo)
Um poema longo, mas que se lê muito bem duma só vez.

Completo, cheio de dor, de magoa... talvez por isso tenha gostado de o ler