Os teus olhos, num momento,
Fizeram de mim cativa,
Quem me dera, minha vida,
Fugir desse encantamento:
Porque insistes em olhar-me
Quando eu desvio meus olhos?
Porque fujo dos teus sonhos,
Se não sei já ignorar-te?
Não sei que força me prende,
Quando buscas meu olhar.
Quando te vejo a passar
Todo o meu corpo se rende...
Meus olhos são noite finda,
Nos teus é clara a manhã,
Os teus dizem: "amanhã...",
Os meus são semente ainda.
E se olhas para mim,
Seja só por um segundo,
Do lado de cá do mundo,
Meu rosto é rosa carmim.
Que força é esta que une
As chamas do teu olhar
Ao fogo a serpentear
No meu olhar não impune...?
Como negar os meus olhos
Aos teus, ávidos de mim,
Se os meus, árido jardim,
Desesperam por estolhos!?
Não posso negar este elo,
É tudo que posso dar-te!
Mas, por Deus, volto a rogar-te
Que rasgues esse libelo:
Não me olhes desse jeito,
Não me prendas nesse encanto,
Não vês que o fulgor é tanto
Que nos trai a céu aberto?...
Denunciando o segredo
De desejos maré-cheia,
Na minha praia de areia,
Onde o mar acorda cedo...