Poemas -> Góticos : 

Tinta de Sentimento

 
Não sei quem te fez tão triste,
Poema de divagações e de venerações confusas,
Dispersas pela solidão
Como sopros sussurrados à loucura do tempo,
Cantados em lamentos de sentimento
Escritos na mística imortal da tua sanguínea tinta.
Não sei quem te ensinou
A ser grito que dispersa o estremecer
Entre as paredes dos labirintos da alma,
Mãe dolorosa chorando os filhos apodrecidos
Na dormência da eternidade,
Árvore descarnada de frutos ressequidos.
Não sei quem te criou,
Poema sepultado na pedra fria do meu corpo
Aberto em cruz à cólera celeste.
Sei que és um gemido estrangulado antes de nascer,
Na génese dos tempos deixados por viver,
E que és tormento de todos os dias
Vivente no mais absurdo dos confins de mim.


Semper Fidelis...

Carla Ribeiro

 
Autor
Carla Ribeiro
 
Texto
Data
Leituras
1826
Favoritos
1
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
10 pontos
2
0
1
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
Amora
Publicado: 28/07/2008 16:45  Atualizado: 28/07/2008 16:45
Colaborador
Usuário desde: 08/02/2008
Localidade: Brasil
Mensagens: 4705
 Re: Tinta de Sentimento
Um poema inteiro, imenso, carregado de sombras riquíssimas.

Excelente!
Um espetáculo!


Amora

Enviado por Tópico
RaimundoSturaro
Publicado: 29/07/2008 01:03  Atualizado: 29/07/2008 01:03
Da casa!
Usuário desde: 11/04/2008
Localidade:
Mensagens: 205
 Re: Tinta de Sentimento
Quem sabe esta divagação triste de poeta não seja apenas a sua forma de nos revelar que a realidade sombria de paraísos perdidos é no fim das contas parte da natureza dos mais agraciados por sensibilidade extremada e por vezes tão necessária(e dolorosa) qunto a pretensa felicidade daqueles que fecham os olhos e cobrem-se no escuro ao invés de prestar atenção aos lamentos e sombras com seus ensinamentos de corações tão infelizes quanto sábios no que diz respeito ao autoconhecimento,e a serenidade dos que trilham por caminhos singulares e morbidamente elevados de consciência.

Parabéns por mais esta primoroso texto,digno do talento da estimada e admirada poeta.

Abraços!