era a tarde que caía
azul e lentamente
no mouchão do Tejo
e na Lezíria em frente
donde, atendendo ao meu desejo de as ver por perto,
vinham andorinhas poisar nos fios eléctricos
[faziam ninhos seguros na concha de minha mão …
sabias?... há tanto tempo …]
era um tempo de rosáceas flores enleadas
no vermelho das buganvílias
e destas fundidas em gradeamento de ferro,
mimetizadas meninas em desvãos de escada …
[… este vento, meu amor, este vento, que se eleva
dos restolhos de palha, que m’ atropela e m’atrapalha
e que me não dá sossego … desassossego-me por dentro!
*
...respiro a aragem que chega. há em toda ela uma
voragem bucólica e uma doçura canalha que me apela
à viagem. ao esvoaçar incessante de corpos e de asas …]
então tu chegavas
no cheiro da terra acabada de regar
no piar de ave incerta, quiçá daquela que descortino além
por sobre a ciranda de pedra, mó do trigo …
ébria, reconhecia-te em cada distinto verde
em cada folha que avistava
e que guardava, decalque em mim:
da oliveira, de tom escuro e miúdo folhedo
da bananeira clara, altiva, erecta
da nespereira a regurgitar em tenras folhas
no perfume copioso
das amendoeiras secas
dos troncos das nogueiras ancestrais
e no sibilar dos sons na copa densa dos pinheiros...
… e em tantas outras coisas, mescla d’ harmonia assimétrica.
o pomar embalava-me
em acoplamento de género oposto
e eu sabia-me fêmea, mulher, a cada liminar momento
em que o frio do granito me tolhia a pele dos pés descalços
e a tarde vigente me seduzia
em líricas colantes d’abraços heréticos…
era um tempo a esboçar-se na filosofia do gesto.
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