Poemas : 

Sombra e Vento

 
"Que os deuses são feitos por dentro
Da matéria da sombra ou do vento"

Yüan Mei



Tinha acabado "O Desaparecido"
ou um volume de
" À Procura do Tempo Perdido",
não sei precisar.
Aparecera-me de negros cabelos vestida,
silente princípio cósmico e eu
encolhera-me diante da corrente de ar
que me dera.
Aparecera-me de movimento metronómico
a regular os andamentos das palavras
que a torrente de anos desabraçados lhe ditara.
Saiu tão suavemente como entrou.
E eu aluado princípio cósmico de cabelos
negros vestido,não dera conta da coincidência,
nem uma corrente de ar me prendera"Adeus,filho."
Tentei correr de ar atrás dela,mas já só lhe vi sombra e vento.

 
Autor
Bruno Sousa Villar
 
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Enviado por Tópico
Julio Saraiva
Publicado: 27/07/2008 14:29  Atualizado: 27/07/2008 14:29
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 Re: Sombra e Vento p/Bruno Sousa Villar
"Tentei correr de ar atrás dela, mas já só lhe vi sombra e vento." Ah, Poeta de coração pouco católico, quem me dera poder voltar no tempo e ter a fé que tu negas. Eu sei, a negativa é uma prerrogativa do poeta ou um escudo talvez. Cada vez me encanto mais da tua poesia. Não vejo nela o cinismo que queres demonstrar. Não. Pelo contrário: vejo em teus escritos a sobriedade madura de quem usa a palavra como arma de ataque e defesa. Irônia não é cinismo. Envio-te, de quebra, estes versos extraídos do Diário da Prisão, de Ho Chi Minh:

LUAR

"Para os prisioneiros, não há bebidas nem flores,
Mas a noite é tão agradável, como vamos festejá-la?
Espio a lua, através do respiradouro,
Pela passagem estreita, a lua sorri para o poeta."

Bom ter a tua poesia por perto, meu caro Bruno.

Afeto e admiração,

júlio s.