ESTUÁRIO DA HONRA
De caju em caju o espectro do enxovalho da desonra se põe á minha caça,
Me querendo siderar sem indulgência;
Eu, em resposta, engendro ardis para melhor assimilar o gosto acerbo da derrota
Qual em minha boca assenta de forma imperiosamente lenta e dolorosa.
De caju em caju ao ser impelido a contemplar o oco horizonte de inverno
Que reluz impresso em minha própria fronte,
Me encarcero no limbo das profundezas do meu sádico ego.
De caju em caju passo noites em claro:
Jazido sobre o angustiante leito da bruma
Contida na etérea imensidão da cinza das horas diárias,
Reflito se um dia ascenderei á áurea constelação ordinária,
Deixando finalmente para trás o cárcere do ouropel:
Que, na verdade, é o eufemismo da escuridão alva!
De caju em caju sou tomado por um melancólico medo,
Pois diviso em meu ente opaco
A ravina, o abismo, a necrópole, o naufrágio,
A pista de dança onde me dissolvo e bailo
A valsa do degredo de minha dignidade, brio,
Sonhos, desejos e idealizados edificantes itinerários.
De caju em caju sou compelido a ir até o âmago de mim
Para recontemplar o estuário,
Onde o crepúsculo da flora do bom orgulho
Transmuda em turmalina
A minha mais linda e cintilante Esmeralda!
JESSÉ BARBOSA FE OLIVEIRA