tendencialmente sorria com o coração apertado e os olhos escondidos por detrás da vergonha de se saber apaixonada. às vezes despedia-se com a mão a acenar a falta sucessiva de carinho. não esperava que a compreendessem quando se encolhia sobre si mesma e boiava como um pato de borracha no lago. não esperava nada, na verdade nunca esperou nada e sem que nada esperasse muito lhe havia sido entregue. às vezes conseguia segurar o mundo na ponta do nariz, sempre fora equilibrada menos quando se falava de amor, esse tema tão gasto como desconhecido. tendencialmente comia do lado esquerdo da mesa, depressa, como quem tem uma infinidade de tarefas agrafadas na porta do frigorífico, a obrigação de cumprir uma rotina absurda, a vida. às vezes sentava-se no pátio com um caderno entre as pernas cruzadas à chinês, sorria devagarinho quando alguém passava, fechava-se depois em casa com o silêncio como companheiro. pulava dentro de si uma falta de carinho e ela quieta esperava com a mesma paciência de quem nunca esperou nada, na verdade. tendencialmente calçava sapatos rasos e de quando em vês atrevia-se a caminhar descalça, pintava a vida com as pontas dos dedos sobre a água do lago e sempre que podia, e podia tantas vezes, andava nela com o mesmo entusiasmo de quem anda pela primeira vez de baloiço. às vezes sim. às vezes não. tendencialmente chamavam-lhe Joaquina mas havia ainda quem a julgasse margarida nas pétalas da sua juventude.
. façam de conta que eu não estive cá .