anos passados, décadas,
mantém-se a música que respiras,
puro ar, olhar
amplo e horizontal
como o dos claros dias
as folhas e os ramos
contemplas,
povoando a tua árvore
sentes o profundo sentido
das gerações,
a paternidade e a filiação;
mas se te subvertem os valores
passando do natural ao sobrevivido,
nas pressões e pulsões de metas
materiais, da carreira, estatuto e consumo...
se a tua cidade se povoa de urbanos sons,
amarelecendo os alfarrábios vegetais
se sob as comerciais luzes
as almas permanecem ocultas,
pela luminosa e opaca cortina,
se vez o teu solo construido sobre as húmidas lamas,
sobre os cimentos e empedrados,
sobre o betão e o alcatrão...
procura no deserto a fonte do teu coração.
José Jorge Frade