MARTÍRIO NEGRO
Ao longe vislumbrava-se a Nau
Na negra sombra da noite
Corta ondas dum mar mau
Na crista da vaga seu açoite
No tombadilho ia o martírio negro
Eram escravos de sua negritude
Seus olhos choravam o medo
Caindo lágrimas de brutal virtude
Aguardam a sangrenta cidade
Que suas vistas já alcançam
Esperam dos senhores crueldade
E a chibata que p´la ponta dançam
E as aves canoras embalam
Cânticos de dor terrível
Para os escravos que não falam
Da sua raiva compreensível
Tambores retumbam a chagada
Das naus que vinham de África
Traziam miséria e a morte esperada
Como linha de montagem de fábrica
E naquela barbárie loucura
A razão não impôs seu juízo
O mundo não sabia dessa tortura
Que hoje devia ser dor e prejuízo
Como foi possível tal calamidade
Em séculos que se pensa passados
Mas hoje há outra montruosidade
Em seres igualmente mal abençoados
Que também partem p’ra longe
Em aviões modernos super lotados
Procuram vida que não é de monge
E encontram futuros confiscados
De: Fernando Ramos