Senhora de pedra…
O que fazes olhando para o mar?
O que fazes no cimo de um planalto
de pés descalços no asfalto?
Olhas para o mar
Á espera dos navios perdidos
Que outrora viste partir…
Mas que nunca viste chegar…
Senhora de pedra…
O que fazes cantando para o vento?
Porque cantas,
as canções de quem perdeu?
O que perdeste tu?
A saudade, a esperança?
Um olhar, ou o sabor de um beijo de despedida?
Será que perdeste o cheiro dos navios?
O cheiro dos cascos cobertos de musgo?
O barulho do cais na madrugada?
Será que perdeste a razão da tua existência,
quando perdes-te o cheiro dos cabelos de alguém?
O cheiro de alguém que amas-te…
Por quem esperas-te…
E que talvez continues a amar…
E a esperar…
De olhos postos no fundo mar
Na tua rotunda solidão…
Senhora de pedra…
Remóis-te na culpa
De teres perdido o teu jovem amado
Naquela noite de partida
E de teres dia e noite chorado
E teres criado este mar
Onde mataste que amavas…
Na tua petrificada razão de esperar…
Esperas…
Esperas…
Por aquele que amas…
Até ao dia em que ele volte
P’ra te amar novamente…
E faça bater…
Esse teu coração de pedra…