COISAS DA VIDA!
Há vinte e cinco anos atrás, trabalhei num Hospital Veterinário, onde havia uma equipe de dezoito médicos veterinários, ocupando diversas especialidades e um corpo de auxiliar de enfermagem com cerca dez enfermeiros. Dentre eles, havia um mais atencioso, mais interessado, sempre se mostrava com muita vontade de aprender e executar os serviços.
Não se sabia bem do porque, mas, um de nossos colegas de equipe não gostava do rapaz que nos auxiliava na enfermagem e implicava com tudo que ele executava, procurava erros, recriminando-o sempre que fosse possível.
Era explícito a birra que aquele colega tinha com o auxiliar-enfermeiro e quando perguntávamos o porque daquilo? Ele respondia sempre: “ Meu santo
não cruza com o dele.”
As brigas continuavam, sempre instigadas pelo colega veterinário, que teimava em chamar a atenção e menosprezar o serviço do rapaz. Algumas vezes o rapaz se defendia e assim, as brigas ficavam cada dia mais acirradas, até que um dia, houve um desentendimento maior, chegaram mesmo às vias de fato e no final de tudo, como sempre costuma acontecer, o rapaz fora desligado do quadro de auxiliar de enfermagem do hospital.
Como gostava muito do que fazia, o rapaz fora trabalhar, numa Clínica Veterinária próxima ao Hospital, de propriedade de um Coronel-Veterinário reformado e por isso, sempre tínhamos contato com ele, embora às vezes, ficávamos algum tempo sem vê-lo.
Depois de quase dois anos afastado, o rapaz apareceu com um brilho intenso nos olhos, contou que havia passado no vestibular para medicina veterinária, ficamos muito contentes, demos pra ele nosso parabéns, pelo esforço e pela vitória! De vez enquanto ele aparecia no hospital para uma visita.
E como o tempo voa, um dia apareceu nos convidando para sua formatura, praticamente todos foram, menos o colega das brigas é claro!
O rapaz continuava trabalhando na clínica, agora como médico veterinário, o proprietário da clinica já meio cansado, ofereceu-lhe sociedade e o jovem veterinário aceitou. Dois anos depois o coronel veio a falecer e a família transferiu a parte da sociedade do velho Coronel para o rapaz.
Os tempos e a economia do País foram se modificando, lembro-me da necessidade de se cortar custos, assim, quatro médicos veterinários e quatro auxiliares foram demitidos, por conta da tal contenção de despesas.
Nesta época, o jovem proprietário estava precisando de um colega para ocupar os horários que pertenciam ao colega falecido, lá apareceram muitos colegas, um deles imaginem, justo aquele colega que sempre espinafrou o rapaz enfermeiro.
Sem se saber bem o porque, justamente ele, foi o veterinário escolhido pelo antigo auxiliar e agora colega de profissão. Uma vez, intrigado com a sua escolha, perguntei: Porque o escolheu? Se justamente ele, era quem havia passado o tempo todo brigando e o desprezando.
Olhando para mim, o rapaz então disse: “Ele sempre dizia que, o santo dele não cruzava, não se entendia com o meu.” Eu nunca achei correto que santos ficassem brigando, quem sabe agora, possamos dar aos nossos santos a oportunidade de fazerem as pazes!