Que saudades da minha rua
Nas tardinhas de Verão,
Quando a aragem brincava,
A esconder-se do calor,
E subia a estreita calçada,
Direitinha do Marão!
Tantas saudades, tantas!,
Das sestas ao relentinho,
Ou na soleira da porta,
Aprendendo a bordar
Flores que minha mãe plantava
Em retalhos de branco linho...
Que saudades das Trindades
Em ecos na minha rua,
Quando aplacavam suores,
Chamando aos doces lares
Afazeres de sol-a-sol,
Afagos de lua-a-lua.
Com as pedrinhas lavadas
Pela chuva de Verão...
Que saudades da minha rua,
Em subida para o céu,
Atapetada de flores
Em dias de procissão!
Que saudades da minha rua!
Dos Domingos soalheiros,
Quando os moços se vestiam
De lavado e bailarico,
E sua alegria enfeitavam
De namoricos brejeiros.
Tantas saudades me dá
Lembrar o ledo bulício
Da minha rua que era
Avenida Principal
Dum tempo em que a minha aldeia
Era meu colo patrício!
Que saudades das vindimas,
Quando a azáfama era crescendo
Na calçada adocicada
Pelas lágrimas dos bagos
Sacrificados nas rodas
Dos carros de bois, tangendo...
E o aroma dos açúcares,
Ainda hoje os sinto assim,
No melhor cofre que guardo,
Junto com os sons do fado,
No vivo altar da saudade
Que reza dentro de mim.
Hoje, só silêncio mora
Na minha rua esquecida...
As gentes negam-lhe os passos,
Preferem estradas e carros
E desdenham a calçada
Onde pisaram a Vida...
(A calçada da minha rua é a subir e a descer...
... assim como a minha Vida, calçadinha de sofrer...)
Teresa Teixeira