Agora é Ana que fala, da ciência da interpretação dos barómetros:
-“Quando, depois de longo período de bom tempo, desce precipitada e continuamente, é sinal de chuva. E descendo sem que haja mudança no estado aparente da atmosfera, quanto maior for o espaço de tempo entre a descida do barómetro e a chegada da chuva maior será a duração do tempo chuvoso. Se, pelo contrário, durante o tempo chuvoso e de já longa duração, começar a subir lenta e seguidamente, é certo que voltará o bom tempo e que durará tanto mais quanto maior for o intervalo entre a sua chegada e o princípio da subida barométrica.”
Henrique escutava atentamente a sua companheira. Não pôde deixar de sorrir ironicamente desta aplicação dos intervalos…
Ana continuava, olhando para Henrique, olhos como de mãos dadas.
-“Se a mudança de tempo segue imediatamente o movimento da coluna barométrica, essa mudança terá curta duração. Se sobe lenta e continuamente durante dois, três ou mais dias, anuncia bom tempo, ainda que não cesse de chover durante esses dias e vice-versa; mas se sobe durante dois ou mais dias, ainda que chova, e depois desce, logo que chega o bom tempo, este durará muito pouco e vice-versa.”
Wirsung estabelecia na sua imaginação um paralelismo desta meteorologia com os processos psicológicos.
Aquele amor tinha sobrevivido a prolongados temporais, protegido pelos seus cuidados.
-“Na Primavera e no Outono, a descida rápida pressagia vento. No Verão, estando tempo muito quente, denuncia trovoada. No Inverno, depois das grandes geadas, o rápido abaixamento anuncia mudança de vento e chuva. Se pelo fim do Outono, depois de tempo chuvoso e ventoso muito prolongado, o barómetro se eleva, há indício certo de mudança de vento e, às vezes, queda de neve. Nunca se devem interpretar as oscilações rápidas do barómetro como presságio de tempo seco ou chuvoso de longa duração. Estas previsões são dadas, exclusivamente, pela alta ou baixa que for lenta ou contínua.”
Luís toma a palavra, demonstrando a aprendizagem:
-“Se ao mesmo tempo que se acentua uma alta barométrica a temperatura aumenta, é de esperar um golpe de vento da zona tórrida. Se, pelo contrário, o termómetro baixa, o vento virá das regiões polares. Na aproximação duma tempestade giratória, o termómetro sobe rapidamente alguns graus, tornando-se o calor asfixiante. No decurso de uma tempestade ordinária, a temperatura baixa três a quatro graus, nos dias que a precedem e seguem, ao mesmo tempo que uma chuva contínua se acentua. No Inverno, se o termómetro sobe quando neva, a neve transforma-se em chuva; se baixa quando chove, a chuva transforma-se em neve.”
A liberdade, conhecimento da realidade, em constante transformação.
José Jorge Frade
Capítulo 21 de "Lúcido Mar"