(Cartas à minha Vida)
Ai, Vida, às vezes é tão difícil compreender-te! Penso até que somos capazes de decifrar melhor as vidas dos outros do que a nossa própria e querida Vida! É tão fácil (pelo menos para algumas pessoas!) dissecar, julgar, acusar ou defender, condenar ou perdoar a Vida dos outros! Mas o entendimento da nossa própria é muitas vezes difícil e conflituoso. «Vida, és tão ingrata para mim!»...«Vida, porque me fizeste isto?»...«Vida, porquê eu?»...Quantas vezes já não me ouviste lamúrias destas, às vezes com pesadas razões, outras levianamente... Mas também, quem te manda ser tão complicada? Porque não me forneceste um Manual de Boas Práticas quando me foste atribuída? Tá bem, a culpa não é tua, se calhar tu é que és a parte mais queixosa da nossa cruzada! A minha fada-madrinha sempre me dizia: «Não custa viver, custa é saber viver...» (a minha fada-madrinha já morreu, mas passou-me, ou tentou passar-me, grandes verdades...) Pois é, eu acho que nunca aprendi a «saber viver», a entender-te, a moldar-te e a resistir de pé aos teus empurrões. Sempre me moldei eu, condescendi às tuas adversidades, curvei-me à tua ditadura, perdoei demais, cedi demais...
Houve um tempo em ti, em que eu me julguei tua dona, senhora altiva das tuas rédeas e capaz de cavalgar todos os meus sonhos! Lembras--te? Eu gostei tanto de ti! Mas traíste-me, não me deitaste a mão quando me estava a afundar, e desde aí, nunca fui capaz de te amar da mesma maneira! E comecei a falhar... Já estás outra vez a acusar-me e a clamar que a culpa não foi só tua, não é? Está bem, reconheço que fui preguiçosa, me acomodei, e, com a desculpa da prima Esperança, deixei sempre para amanhã as grandes e as pequenas decisões! Talvez por, apesar de já não te amar como dantes, confiar ainda que, a qualquer curva do caminho, tu me erguerias outra vez para o teu dorso e me devolverias as rédeas do meu Destino! Pura ilusão! Se nos deixamos cair, a lama suja-nos inevitavelmente, e o mais grave de tudo, é que corremos o risco de nem sequer gostarmos de nós próprios, quanto mais da nossa vida!
Teresa Teixeira