Poemas : 

Transição

 
É tão fria a cova e tão escuro o horto
onde depositam meu corpo doente!
_ Como a cova é fria se o corpo é morto?
A partir de agora só a alma sente...

Ah! Esta cama rude onde estou deitado
e este quarto escuro e tão bem fechado!
Tento levantar, mas estou tão cansado...
Que rumor é esse ali no quarto ao lado?

Há um jardim bem perto: sinto o odor das flores.
Quero levantar, mas estou tão cansado...
Estou tão cansado mas não sinto dores.
E o rumor aumenta ali no quarto ao lado.

_ Desçam o caixão! _ diz alguém lá fora.
Quem morreu enquanto estive dormindo?
Bem perto da porta ouço alguém que chora,
lamentando a sorte de quem vai partindo.

Quero levantar, faço força tamanha
mas tenho as mãos inertes e o corpo duro.
Agora o padre reza numa língua estranha,
enquanto fico preso neste quarto escuro.

Está caindo terra sobre o telhado.
Parece que o mundo está desabando...
Falta-me o ar neste quarto fechado
e lá fora há uma multidão chorando.

Sinto um tremor leve, um breve arrepio...
Já quase nada mais estou sentindo.
Por que não me tiram deste quarto frio?
Alguém morreu enquanto estive dormindo.

É tão fria a cova e tão escuro o horto
onde depositam meu corpo doente!
_ Como a cova é fria se o corpo é morto?
A partir de agora só a alma sente...

Poesia classificada em 2º lugar no Prêmio Cataratas 2006, da Fundação Cultural de Foz do Iguaçu, e menção honrosa no Prêmio Cidadão de Poesia, de Limeira - SP




Remisson Aniceto - poeta brasileiro, da cidade de Nova Era, editor da Revista PROTEXTO, de páginas abertas para novos e conhecidos autores.

 
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Remisson
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 21/07/2008 19:24  Atualizado: 21/07/2008 19:24
 Re: Transição
Adorei! Arrisco dizer que merecia mesmo o 1º lugar ...
Parabéns e um beijinho.


Enviado por Tópico
Pedra Filosofal
Publicado: 22/07/2008 14:22  Atualizado: 22/07/2008 14:22
Colaborador
Usuário desde: 17/09/2007
Localidade: Barreiro
Mensagens: 1273
 Re: Transição
Apesar de ser um poema de despedida, do morto, gostei bastante.

Bem vindo ao Lusos