DISCURSO DA PRIMAVERA SEM FLORES

Conceição,

Bem sei, que você bondosamente classicificou como hino, não será, como não está sendo, recebido com bons olhos aqui no Luso. Salvo algumas exceções, que eu afirmo até brilhantes, a maioria prefere falar mais do amor do que da dor. Site aceita tudo, até poetas de fim de semana. Não quero que as pessoas pensem como eu. Sou militante do Partido Comunista Brasileiro desde os tempos de estudante. Aos 52 anos, seria impossível trair tudo aquilo que ficou atrás. Seria trair minha própria história. Ainda acredito no socialismo, que vejo como um ato de amor à humanidade. Agradeço a você por ter entendido o meu poema. Pena que minhas palavras não passarão dos limites da tela.

afeto,

júlio s.

ps: não podemos esquecer que aí em Portugal miguel torga foi uma das vozes mais importantes na defesa do socialismo. aqui no luso há um poema meu dedicado a ele.

companheiro jessé,

você lembrou bem: até manuel bandeira e jorge de lima, que eram santos e compunham poemas religiosos, não fugiram à luta. drummond, em a rosa do povo,e vincíus também não
salve salve,

saudações socialistas

júlio s.

Tânia,

É muito triste uma primavera sem flores. Mas como falar de flores neste tempo ruim de exploração e miséria?!Como falar de flores se o trabalho escravo grassa nos campos e cidades?! Como falar de flores se há crianças jogadas nas ruas de todos os cantos do país?! Tem hora que é preciso ignorar as flores. Se é que elas ainda existem.

afeto,

júlio s.

Amiga Conceição,

Independente de ideologia, o poeta, o escritor, o intelectual enfim, tem por compromisso e dever gritar em favor dos mais fracos. A poesia, no caso, não pode limitar-se apenas ao colo do ser amado. Deve ser, sim, participativa e atuante. E lutar por um mundo melhor. Um tiro pode ferir a alguns metros. A palavra atinge a quilômetros, atravessa continentes. Em apenas seis linhas, um jornalista derrubou um presidente dos Estados Unidos. Em apenas seis linhas também, um jornalista denunciou ao mundo a existência da bomba atômica. Com o peso dos seus versos, o poeta Vladimir Maiakóvski ajudou a fazer a Revolução Russa.

abraços, minha cara poeta.

júlio